Igreja, só de pedófilos?

Plutarco Almeida
Sacerdote jesuíta e jornalista

Publicado em: 24/08/2018 03:00 Atualizado em: 24/08/2018 08:36

Na última quinta feira, 23 de agosto, este jornal publicou editorial falando sobre a pedofilia na Igreja Católica. Recentemente a Justiça americana reacendeu o debate exigindo reparação pelos danos causados por padres e até bispos ao longo de mais de 30 anos nos Estados Unidos. Centenas de crianças e adolescentes foram vítimas desses sacerdotes que usaram covardemente seu poder de convencimento religioso para molestar sexualmente quem deveria proteger e amparar espiritualmente. Durante muito tempo, vários “líderes” católicos foram acobertados pelos superiores, ou pelo menos não sofreram as punições que deveriam e mereciam sofrer. Lugar de pedófilo não é nos altares, é na cadeia! Então o editorialista está certo quando diz que é preciso haver punição. E não somente os pastores, mas todo o povo de Deus que é a Igreja deveria assumir a mesma postura. Acobertar o criminoso, qualquer que seja o crime, é o mesmo que passar um atestado de incoerência evangélica. Não importa quem é o criminoso. O título antes do nome não retira a responsabilidade de ninguém, pelo contrário, só aumenta!

Mesmo concordando com o editorial neste ponto, algumas ressalvas precisam ser colocadas. Em primeiro lugar, temos que reconhecer o grande esforço que o Papa Francisco tem feito no sentido de combater a pedofilia na Igreja. Já em várias oportunidades Francisco tem chamado à atenção dos católicos e reconhecido a gravidade do problema. Quais são os líderes mundiais que têm feito um mea culpa nos últimos tempos? O exercício da autocrítica é produto raro de se achar agora. E não somente isto, mas o Papa tem tomado providências efetivas para combater esse terrível mal. A renúncia coletiva dos bispos do Chile é apenas um dos muitos exemplos que poderíamos trazer aqui. O desligamento de vários padres, bispos e até cardeais confirma essa posição firme e corajosa de Francisco que em momento algum se omitiu nem está se omitindo. Evidentemente, nem ele nem ninguém possui o controle absoluto de tudo o que acontece no interior das Dioceses e paróquias do mundo. Compete também aos fiéis católicos observar os fatos e denunciar às autoridades caso haja provas. Neste sentido, toda a Igreja é responsável e ninguém pode se omitir, repetimos, diante de crime nenhum.

Finalmente, é preciso dizer que nem só de bispos e padres pedófilos vive a Igreja. Não haveria espaço suficiente em todos os jornais, em todas as mídias desse país para relacionar a quantidade de obras sociais mantidas por instituições católicas e que beneficiam direta ou indiretamente milhares de crianças, adolescentes e jovens. Claro que isto não justifica os crimes cometidos, mas também não permite que a escuridão criminosa provocada por uma minoria obscureça tantas luzes acesas por milhares de pessoas que consagram suas vidas a serviço do bem.

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