Editorial Sem espaço para omissão

Publicado em: 21/08/2018 03:00 Atualizado em: 21/08/2018 09:02

O governo federal precisa agir rápido para evitar uma catástrofe em Roraima. A crise aberta pela grande migração de venezuelanos para o estado está sendo tratada apenas do ponto de vista militar, com o envio de tropas federais. Distante da realidade que aflige a todos, a burocracia de Brasília se nega a adotar ações coordenadas que imponham fim aos conflitos e minimizem os estragos sociais provocados pela fuga em massa do país comandado pelo ditador Nicolás Maduro.

Por mais que a situação esteja saindo do controle — houve um embate entre brasileiros e venezuelanos no fim de semana, na cidade de Pacaraima, depois que um empresário local foi assaltado e espancado quase até a morte por quatro imigrantes —, não serão medidas extremas, como o fechamento de fronteiras, que resolverão os problemas. É preciso uma ação de Estado, com movimentos conjuntos dos ministérios da Saúde, do Desenvolvimento Social e da Justiça.

Também é preciso que o governo brasileiro lidere uma corrente internacional para que todos os países que estejam recebendo venezuelanos ajam em uníssono, oferecendo apoio aos que fogem do quadro dramático vivido pela Venezuela. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que, desde 2014, a crise política, econômica e social já expulsou 2,3 milhões de pessoas da Venezuela. Uma parte delas veio para o Brasil em busca de condições melhores de vida.

A governadora de Roraima, Suely Campos, tem razões de sobra para cobrar apoio da União. O que não pode é transformar uma crise humanitária em um fato político. De olho na reeleição, um discurso mais radical por parte dela contra os imigrantes tende a incitar a violência, com resultados imprevisíveis. Diante do tamanho do problema, serenidade, bom senso, vontade política e rapidez nas ações são itens cruciais para que se encontrem as soluções que beneficiem tanto os moradores de Roraima quanto os venezuelanos que não veem perspectivas de melhora na situação do país que deixaram para trás.

Maduro lançou ontem mais um pacote econômico com a promessa de pôr a Venezuela nos trilhos. Cortou cinco zeros da moeda local como forma de conter a inflação que, pelos cálculos do Fundo Monetário Internacional (FMI), chegará neste ano a inacreditáveis 1.000.000% (um milhão por cento). O Produto Interno Bruto (PIB), também pelas contas do FMI, terá retração de 18%. Todos sabem que, enquanto Maduro estiver no poder, a Venezuela só afundará. E isso ampliará a fuga de venezuelanos.

Portanto, que as autoridades sejam criteriosas em suas ações e decisões. A legislação brasileira sobre imigração é clara e determina o acolhimento de refugiados. Os governos devem fazer o que estiver a seu alcance para debelar todos os problemas. Não se pode de esquecer que, desde abril, já se previa uma série de tumultos. Infelizmente, imperou a omissão. Agora, a única alternativa é agir. A fatura já está ficando alta demais.

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