"Oh, tempos! Oh, costumes!"

Bartyra Soares
Membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 16/08/2018 03:00 Atualizado em: 16/08/2018 08:56

Diariamente, pelos motivos mais banais, indivíduos são assassinados em todos os estados da Federação e Pernambuco não foge à regra. A marca do celular que o homem leva não correspondia à expectativa do bandido? A arma é acionada. O dinheiro que a senhora carrega na bolsa é insuficiente para suprir a “necessidade” do assaltante? O tiro é deflagrado. O adolescente não calça um par de tênis correspondente ao encanto do “garotão”? A bala vai alojar-se na cabeça do jovem.

Ante os mais estarrecedores crimes ocorridos na sociedade, determinados especialistas abalizados são convocados pela mídia para explanações. Escutemos suas vozes: o criminoso é filho de uma sociedade desigual, é o resultado do sistema desumano em que vivemos, é fruto da exploração do mercado de consumo, é representante do egoísmo das elites brancas surrupiadoras das riquezas do país, aproveitadoras da força de trabalho dos menos favorecidos.

Dessa maneira, se conclui que o ser humano não é mais responsável por seus atos, não responde mais por suas ações. O livre arbítrio foi banido do vocabulário nessas questões de vida e morte.

Os estudiosos dessa corrente reducionista adotam a teoria da vitimização do homem oprimido. O processo colonizador, a exploração dos povos dominados, tudo justifica e esclarece. Esse discurso esquece da Índia, que sofreu um forte impacto colonial do maior império do mundo da época, o britânico, e apresenta hoje índices de violência infinitamente inferiores aos encontrados no Brasil. O mesmo acontece com a África do Sul, vários países da África Negra, algumas nações da América Latina, todos detentores de baixos números de violência se comparados com os do Brasil.

Claro que a violência é um componente da história da evolução humana. Não há como crer que de forma sumária poderá ser erradicada da Terra. Mas poderá haver caminhos atenuantes, opções a serem analisadas. Nisso se incluem a elaboração de leis rígidas e justas, a estruturação de um aparato político-jurídico eficiente, a aplicação de penas de acordo com os delitos sem medidas que apenas provocam recaídas “imprevistas”, enfim, é de suma importância a existência de um sistema penitenciário educativo.

Enquanto atitudes a esse respeito não forem tomadas, assistiremos entre estarrecidos e abatidos, a assassinatos perpetrados pela crueldade na sua mais veemente forma de ser.

Se não vierem as transformações, ao brasileiro só restará ouvir a voz do senador Cícero, dirigida ao político rebelde, no antigo Senado de Roma, atravessando séculos para chegar às nossas instituições governamentais e a esmo vagar pelas ruas do país: “Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?”

E, ante a impotência de se ver resolvida a situação, escutaremos ainda a indignada voz de Cícero: “Oh, tempos! Oh, costumes”.

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