Uma revista da memória

Luzilá Gonçalves Ferreira
Doutora em Letras pela Universidade de Paris VII e membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 16/08/2018 03:00 Atualizado em:

Nossa memória funciona como um dos elementos da vida interior, um alimento da sensibilidade, do intelecto. Recupera tempos perdidos, conserva a lembrança dos seres e lugares que amamos, dá um sentido ao passado, permite esquecer que o tempo passa, ajuda-nos a apreciar o presente. No mês passado foi lançado o primeiro número de Ruber, que se anuncia Revista da memória de Garanhuns. Essa publicação vem se juntar ao esforço que se faz no Brasil para recuperação de nosso passado, a exemplo do Senado, cujo Conselho Editorial, criado em janeiro de 1997 editou “obras de valor histórico e cultural e de importância relevantes” para o conhecimento e preservação de nosso passado, através de Biblioteca Básica Brasileira ( existe ainda?). A nível estadual temos a Biblioteca pernambucana de história municipal, da Fiam, que tem publicado notáveis pesquisas de “trabalhadores solitários que, em muitas cidades do interior, vivem voltados para o estudo da história local, esclarecendo datas, revivendo episódios, evocando personalidades”, como escreveu o professor Luiz Delgado. O título dessa recente publicação do Instituto Histórico Geográfico e Cultural de Garanhuns, remete a Ruber van der Linden, engenheiro, geólogo e poeta, nascido na cidade, em 1898. Um dos personagens ao qual Garanhuns deve realizações fundamentais para a vida dos moradores, como a implantação dos serviços básicos de água, luz, telefone, idealização de lugares de lazeres, como praças e parques e criação dos Almanaques de Garanhuns. Este primeiro número da revista, resultado do trabalho incansável de membros do IHGC, à frente o jovem historiador Igor Cardoso e a atual presidente do instituto, Ivonete Batista, homenageia dois importantes personagens marcantes da cultura da terra, recentemente falecidos, Luzinete Laporte e David Gueiros Vieira. Traz colaborações de ilustres filhos da terra, entre eles o professor cientista político Michel Zaidan, o ex-presidente do Instituto Audálio Ramos Machado, vereador incansável na atenção e cuidado das coisas públicas da cidade, Jodeval Duarte, brilhante jornalista e pesquisador, Marcílio Reinaux, arquiteto e memorialista, Dominique Dreyfus, escritora e filha do professor Dreyfus que por muitos anos levou o estudo da matemática e da língua francesa aos colégios da cidade. Flávio Tavares, Ivan Rodrigues, Igor Cardoso, Ivonete Batista, esta colunista, que recordam tempos da memória histórica e sentimental de Garanhuns. Colaborações póstumas de Sales Vila Nova, de Luis Jardim, de Mário Márcio de Almeida, recompõem lembranças de vultos, romances, eventos, instituições como a festa de Natal antigo, o Colégio Quinze de Novembro. No final da revista, dois importantes documentos como o Preito de Saudade a Alfredo Leite, a quem Garanhuns deve uma capital história da memória da cidade, e o Dossiê dos trabalhos da Comissão do Memorial do Centenário da Hecatombe, por Cláudio Gonçalves, historiador e romancista. Parabéns aos idealizadores de Ruber, uma revista fadada a permanecer por muitos anos na vida da cidade das flores.

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