Um "Jesus Cristo" que não mais ressuscitará

Giovanni Mastroianni
Advogado, administrador e jornalista

Publicado em: 15/08/2018 03:00 Atualizado em: 15/08/2018 08:54

O ator e diretor José Pimentel, que, há mais de 50 anos, interpretou, pela primeira vez, o papel de Jesus Cristo, na Paixão de Cristo, da Nova Jerusalém, em Fazenda Nova, distrito de Brejo da Madre de Deus, no interior pernambucano, faleceu, neste 14 de agosto,  após internamento hospitalar e tratamento em Unidade de Tratamento Intensivo, durante cinco dias, em consequência de  um enfisema pulmonar, depois de apresentar dificuldades para respirar, desde a última quinta-feira.

Recentemente, José Pimentel havia se submetido a uma intervenção cirúrgica no fígado, em face de uma obstrução nesse órgão, cirurgia essa  que obteve pleno êxito.

Desde que deixou de atuar no “maior teatro ao ar livre do mundo” que o garanhuense José Pimentel, durante 21 anos, passou a dirigir e interpretar o papel de Jesus Cristo, no Recife, em palcos públicos, também ao ar livre, porém gratuitos, espetáculos sempre patrocinados pela municipalidade, que atraíam multidões.

Conheci Pimentel em 1968, quando juntos trabalhamos, na TV Universitária - a primeira televisão educativa do país - e, desde então, mantivemos uma cordial amizade.  Quando dirigente da ESURP, sempre que o convidava para promover palestras aos alunos de comunicação social, daquele estabelecimento educacional, estava disposto a colaborar, por mero diletantismo. Era sempre um sucesso.

Ainda recentemente, quando transcorria a semana santa, fiz artigo alusivo ao, agora,  saudoso ator,  registrando sua passagem pelo cinema, quando foi um dos principais protagonistas do filme Riacho de Sangue, cujas filmagens, curiosamente, muitas delas foram rodadas no pequeno distrito de Fazenda Nova, ao lado da atriz  Gilda Medeiros, ex-”Miss Pará” e  representante do Brasil no concurso de “Miss Mundo”, em Londres, tema de minha crônica, mercê de entrevista que fiz com ela, quando, em plena filmagem, literalmente, “caiu do cavalo” e foi hospitalizada em Caruaru. Como jornalista acompanhei todos seus passos.

José Pimentel, que, por ironia do destino, em 2018, foi uma das personalidades do Recife escolhida como “patrimônio vivo de Pernambuco”, aos 84 anos de idade, deixa uma lacuna enorme nos meios teatrais e uma saudade imensa no coração de todos aqueles que o admiravam. Ele que, no desempenho de seu papel de Jesus  Cristo, ressurgiu à vida tantas vezes, agora que partiu, não mais ressuscitará. Restará, apenas, a saudade daquele que eram seus devotos.

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