Editorial Rodovias precárias

Publicado em: 15/08/2018 03:00 Atualizado em: 15/08/2018 08:49

As frequentes mortes nas estradas que cortam o Brasil, de Norte a Sul e de Leste a Oeste, são a prova viva do estado lastimável em que se encontra a malha rodoviária e da necessidade, urgente, de maciços investimentos na sua recuperação. A crescente frota de veículos leves, médios e pesados é obrigada a trafegar por uma infraestrutura viária obsoleta, com sinalização precária, pavimento deteriorado e traçados ultrapassados, entre outras deficiências. Pior: mesmo com o crescimento constante do número de carros, ônibus e caminhões em circulação, pouco se fez para elevar o volume de estradas e modernizar as existentes no maior modal de transporte do país.

A terceira edição do Anuário CNT do Transporte, da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), mostra que o aumento da frota, somado à precariedade das vias que cortam o território brasileiro, acabam alimentando as estatísticas de vítimas de acidentes. A malha rodoviária espalhada pelo país tem pouco mais de 1,7 milhão de quilômetros. Desse total, somente 213,4 mil são de estradas pavimentadas, o que corresponde a 12,4%, volume insignificante se comparado com outras nações em desenvolvimento. De acordo com o levantamento, entre 2009 e 2017 houve aumento irrisório no percentual das vias federais que foram asfaltadas, apenas 0,5% em relação aos 212,4 mil quilômetros existentes nove anos atrás. Realidade que dificulta o crescimento econômico de incontáveis localidades, pois o escoamento da produção por caminhos de chão batido não é nada fácil.

O estudo revela, ainda, que aliado ao baixíssimo investimento na infraestrutura rodoviária, o número de veículos cresceu 63,6% no mesmo período, passando de 59,3 milhões para 98,2 milhões, montante muito grande para rodar em estradas inadequadas. O anuário é taxativo quando destaca que “enquanto a frota continua em elevação, exponencialmente, a malha brasileira ainda padece de deficiências estruturais que contribuem para um índice crescente de mortes por acidentes de trânsito”. Este é o alerta que as autoridades competentes têm de levar em consideração quando da alocação dos escassos recursos do governo federal, às voltas com um deficit público da ordem de R$ 159 bilhões.

Além disso, relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) revela que o Brasil é um dos países onde mais se morre em acidentes de trânsito. São 23,4 óbitos por 100 mil habitantes, uma das maiores taxas mundiais de letalidade — a quarta entre as Américas. Embora tenha demonstrado o estado lamentável da atual malha rodoviária federal, o levantamento da CNT também registra melhorias feitas nas vias ao longo dos últimos 10 anos. As 141.112 colisões, em 2008, cairam para 89.396 — 36,6% a menos no ano passado, o que não deixa de ser um volume assustador. No entanto, o certo é que, com o aumento da frota, o governo não pode postergar mais o programa de concessões, única forma de conseguir atrair investimentos para a recuperação das rodovias. Sem recursos disponíveis para modernizar as estradas, somente com a retomada dos projetos de privatização o nó do modal rodoviário será desatado.

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