Leitura. No caminho tinha um livro

Raimundo Carrero
Escritor e jornalista

Publicado em: 13/08/2018 03:00 Atualizado em: 13/08/2018 08:38

As pesquisas indicam um dado crucial: nós, recifenses, não lemos. Fico em dúvida, inquieto, acredito ou não acredito. Sim, porque testemunho o esforço das pessoas em busca da leitura todos os dias, mas o meu testemunho é pouco, muito pouco, não vale nada. Os especialistas estão sempre com a razão.

Os professores – tão criticados e, não raras vezes, insultados – empenham-se grandemente para que os alunos leiam, debatam com os autores, conversem com editores. Mas parecem ser pouco, muito pouco, quase nada. Os especialistas insistem não lemos, nós não lemos.

Vejo um ponto decisivo: os pais não leem e culpam os filhos. Não leem e não compram livros. Os jovens leem e leem muito. Quase sempre os pais me perguntam nas escolas: o que faço para que meu filho leia? respondo com outra pergunta: na sua casa tem livros? Não, na minha casa não tem livros. E como seu filho pode ler? A escola resolve isso. Mas a casa também é escola , onde muitas coisas boas devem acontecer.

Perplexo, paro a conversa e vou tratar com os estudantes. Que livros leem ou estão lendo? Estão com meus livros nas mesas e debatem comigo. Por isso estou ali. Falamos sobre personagens, cenários, notícias, vidas. Estão sempre animados e solícitos. Falam de outros autores, muitos autores. Conhecem Clarice Lispector, Jorge Amado, Graciliano Ramos. Falam de João Cabral de Melo Neto com incrível facilidade. Conhecem Carlos Drummond e até os estrangeiros.

Os pais nem sabem que os filhos leem. Nem sequer compram os livros indicados pelos professores. E perguntam: o que eu que eu faço para que meu filho leia? Uma constatação horrível. Até porque, em muitos casos, os pais não sabem que os filhos fazem na escola. Nem querem saber. E tem raiva de quem sabe.

Os professores se empenham para que os autores debatam com os estudantes e até conheçam as melhores técnicas narrativas. Desde o começo do ano vou à Escola de referência Alcides, uma sexta-feira por mês para debate e reflexão sobre a arte da escrita, com bons e ótimos resultados.

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