Realidade e sonho na industrialização pernambucana

Alexandre Rands Barros
Economista, PhD pela Universidade de Illinois e presidente do Diario de Pernambuco

Publicado em: 11/08/2018 03:00 Atualizado em: 15/08/2018 10:42

Desde a época da Sudene, na década de sessenta do século passado, que há o sonho da industrialização pernambucana como o caminho para o desenvolvimento. Entre 1947 e 1960 a participação do PIB industrial de Pernambuco no brasileiro caiu de 4,25% para 2,54%, de acordo com dados do IBGE. O sonho é que esse patamar atingisse pelo menos o mesmo da população, que em 1960 era 5,8% da nacional. Ou seja, haveria muito o que se recuperar na indústria. Pelas ideologias da década de 1960 até 1990, a industrialização era o caminho para o desenvolvimento. Desde então, a indústria do estado regrediu proporcionalmente. Ela atingiu em 2004 o seu pior patamar, sendo ele de 1,4% da indústria brasileira.

Desde o ano 2007, com o início do governo de Eduardo Campos, o sonho voltou a ser visto como possível. Neste ano a participação da população de Pernambuco na nacional já atingira parcos 4,6%, mas a indústria de transformação local representava apenas 1,49% da brasileira. Entretanto, vários empreendimentos importantes vieram a se localizar no estado, como a Refinaria Abreu e Lima e a fábrica da Jeep, entre outros. Imaginou-se que a partir de então, a sorte seria revertida. Realmente houve crescimento da participação do PIB da indústria de transformação pernambucana na nacional. Em 2014 esse percentual atingiu 2,06%, ainda bem inferior à nossa participação na população em 2007. Essa participação, contudo, continuou crescendo até o final de 2015, tendo atingido 2,21%, mas caiu desde então (utilizamos a produção física mensal para projetar desempenho desde 2014). Em 2018, até junho, atingiu 2,01%, tendo atingido 2,08% em 2017. Ou seja, voltamos ao patamar de 2014. Isso significa que nos últimos quatro anos tivemos o sonho da industrialização de Pernambuco estagnado e enfrentamos a frustração de não conseguir atingir nem de perto a participação que temos na população.

Os modelos de industrialização adotados desde algumas décadas atrás sempre tiveram como base a tentativa de atrair grandes empreendimentos comandados por empresas de fora do estado. A própria lógica do 34/18 e FINOR de certa forma favorecia essa política. Os políticos sempre gostaram desse modelo, pois as empresas de fora são mais dependentes deles para os investimentos por não conhecerem bem as instituições locais e precisarem de apoio para navegar na imensa burocracia local. Mas o alcance desse modelo é limitado pois tende a formar enclaves, com pouca relação com a economia local. Por isso, essas empresas de fora ajudam muito, mas não podem ser vistas como as líderes de nosso desenvolvimento industrial. Pernambuco precisa facilitar, e mesmo, promover as indústrias locais, principalmente as emergentes. A novos empreendimentos de agentes locais tem que ser dada a oportunidade de crescer. Apoio a novas, pequenas e microempresas deveria ser a tônica da política industrial. Desburocratização, maior eficiência da máquina pública na relação com os agentes, postura diferente das fiscalizações, menos agressivas e punitivas. Apoio à inovação tecnológica, incentivos à cooperação entre as empresas, são algumas das políticas necessárias. Ou seja, precisamos de um governo menos imperioso e mais servidor ao setor industrial. Para isso é necessário se promover uma mudança de postura dos agentes públicos, o que requer uma administração com liderança e mensagem clara a eles. Pernambuco precisa de uma mudança de cultura para se industrializar. Esperamos que os incentivos aos políticos para tal saiam das escolhas apresentadas pelos eleitores nas urnas em outubro.

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