Editorial O país espera um projeto de nação

Publicado em: 07/08/2018 03:00 Atualizado em: 07/08/2018 08:36

Quatorze candidatos disputam, neste ano, a Presidência da República. A dois meses das eleições, o debate, até agora, tem sido pautado por trocas de acusações, por exemplos de ações que se mostraram frustrantes em administrações sob o comando de postulantes ou por ideias que, ao longo da história, se traduziram em atraso para o país. O “nós” e “eles” revelam o quanto o Brasil está dividido ante os sucessivos escândalos de corrupção que desmontaram imagens de muitos políticos que, até então, se colocavam como paradigmas da honestidade e do compromisso com o bem-estar dos eleitores.

Todas as legendas encolheram e mais da metade dos eleitores está entre a indecisão e a disposição de não ir às urnas, como bem mostram as pesquisas de opinião. Mas o não voto seria a pior opção. O cidadão é corresponsável pelos destinos do país. Ao virar as costas para o processo eleitoral, ele expressa indiferença com o que possa acontecer no futuro da nação. Há de se convir que as sabatinas realizadas pelos meios de comunicação não mostraram nenhum candidato empolgante. Os pretendentes bem fizeram por onde para reforçar o desencanto.

Hoje, os brasileiros querem que o Brasil saia do atoleiro para o qual foi empurrado a partir da crise de 2014. Suspenso o véu da artificialidade dos números, restaram quase 14 milhões de desempregados, um rombo fiscal superior a R$ 170 bilhões, a perda de crebilidade entre investidores nacionais e estrangeiros, uma economia praticamente paralisada. O Congresso Nacional permaneceu alheio aos interesses nacionais. Postergou a votação de medidas e reformas importantes à recuperação econômica do país, como a da Previdência e a tributária. Seguiu na linha do populismo, com receio de desagradar aos votantes em véspera de eleição.

Há uma falência generalizada na oferta de serviços públicos essenciais, como saúde, educação e segurança. Doenças até então erradicadas voltam a debilitar crianças e adultos. As epidemias recrudesceram por deficiência nos programas de imunização. A morte de homens, mulheres e crianças nas filas é parte do cotidiano em hospitais, onde faltam médicos, leitos e medicamento. Um cenário de horror para quem depende da rede pública.

O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), coordenado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostrou as deficiências do ensino brasileiro. No ranking de 70 nações, o Brasil ficou em 63º lugar. Entre os jovens do ensino médio, 56,6% estão abaixo do nível básico de proficiência em ciências, 50,9%, em leitura e 70,2%, em matemática.

O Brasil, com quase 700 mil detentos, tem a terceira maior população carcerária do planeta, atrás da China e dos Estados Unidos. Ainda assim, são registrados mais de 60 mil homicídios por ano. Mata-se mais no país do que em nações em guerra. O Rio de Janeiro, cartão-postal para o turismo, é zona conflagrada, entre o Exército e o estado paralelo comandado pelo tráfico de drogas e armas.

O brasileiro não quer simplesmente votar em A ou B, mas em um candidato que tenha propostas para garantir emprego, saúde, educação, segurança, saneamento básico. Quer uma Justiça que corresponda aos ditames constitucionais, ou seja, trate todos com igualdade. Deseja um Brasil sem privilégios, com desenvolvimento social e econômico compatível com as necessidades da maioria. O eleitor aguarda o melhor projeto de nação para decidir o voto.

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