Já conhecemos os perdedores das eleições

Alexandre Rands Barros
Economista, PhD pela Universidade de Illinois e presidente do Diario de Pernambuco

Publicado em: 04/08/2018 03:00 Atualizado em: 06/08/2018 09:49

As campanhas eleitorais deste ano ainda nem começaram. O quadro eleitoral está tão indefinido que está muito difícil apontar os vencedores. Contudo, já está bem claro quem serão os derrotados nessas eleições. O povo brasileiro é quem vai perder e antes mesmo de iniciarem as campanhas. Lamentavelmente até mesmo nossa autoestima sairá baixa, numa eleição em que precisávamos gerar entusiasmo com o futuro para fomentar as perspectivas econômicas e sociais do país. Nos últimos quatro anos, o povo brasileiro mostrou uma imensa vontade de mudar o funcionamento de nossas instituições. Rejeitou a corrupção e a ineficiência do Estado, mas fez tudo isso sem maturidade política. Ao mesmo tempo que condenava esses problemas incrustados nos nossos governos e instituições, rejeitou propostas óbvias para reduzi-los, como redução do tamanho do Estado, apoio ao fim da estabilidade do funcionalismo público, e reforma da Previdência para reduzir os gastos dos governos e privilégios dos funcionários públicos de alto escalão. Ou seja, não houve formação de consenso ou algo próximo em torno de uma agenda óbvia com o objetivo de reduzir a corrupção e a ineficiência dos governos, tão combatidas ao longo desses anos.

Os velhos canais de benefícios do Estado continuaram a ser usufruídos por aqueles com acesso a eles. Apesar disso, a maioria da população excluída dos privilégios não conseguiu se unir contra a existência e abuso dessas benesses. Não houve a pressão necessária aos congressistas e a população preferiu se dividir entre os contra ou a favor de políticos específicos, alguns deles até reconhecidos promotores das distorções rejeitadas. Ou seja, o esforço de repulsa foi consumido de forma desorganizada, sem ter sido organizado por qualquer liderança que pudesse transformar as aspirações em propostas concretas com bom suporte da população. O Brasil continua dividido, apesar de alguns consensos básicos quanto aos maiores problemas.

Os políticos tradicionais continuaram a exibir as mesmas práticas e a se comportarem da mesma forma. Sequer se vê perspectivas de redução dos custos das campanhas. As formas de organização e formação de palanques continuam as mesmas. Os interesses são direcionados apenas para a manutenção do poder e elevação das perspectivas de vitórias nas urnas, desprezando-se completamente ideologias e conteúdos programáticos. As formas de conquistar as preferências dos eleitores também permanecem as mesmas. Promessas de benefícios individuais, invenção de mentiras e oportunismos associando-se a políticas bem-sucedidas das quais não se tem de fato autoria. Inventar notícias falsas sobre os adversários também continua uma praxe largamente utilizada. Apenas os meios de divulgação desses instrumentos alteraram-se um pouco, recorrendo-se em maior proporção à internet.

Nenhum dos candidatos a presidente com perspectivas de vitória traz na prática, realmente, propostas claras de mudanças que reduzam os problemas apontados de forma contundente. A redução do tamanho do Estado diminui a corrupção e a ineficiência dos governos. Mas é difícil fazer isso sem demitir funcionários públicos ou controlar o déficit da previdência, principalmente a pública ou o Regime Próprio de Previdência Social. Mas os candidatos com maiores perspectivas de vitória evitam apresentar tais propostas para o debate público. Além disso, qualquer um que venha a ganhar as eleições para o executivo vai ter que recorrer ao apoio do Centrão para governar. Isso terá como consequência a entrega do governo à corrupção. Ou seja, quem sair vitorioso das urnas não só vai evitar reduzir as possibilidades de corrupção, diminuindo o poder econômico do Estado, como também vai trazer os principais agentes dela para dentro do governo. Ou seja, o povo brasileiro é o verdadeiro perdedor nessas próximas eleições.

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