Editorial Pesquisas e ciência são imprescindíveis

Publicado em: 04/08/2018 03:00 Atualizado em: 06/08/2018 09:50

O Brasil se vangloria de estar entre as 10 maiores economias do planeta, mas ostenta indicadores de Terceiro Mundo que envergonham a todos, sobretudo quando o tema é inovação. Entra governo, sai governo, não há nenhum compromisso com o investimento em pesquisas e ciência. Nessa seara, nunca fomos referência. Um ou outro trabalho consegue certo destaque graças aos esforços individuais de cientistas e pesquisadores. O resultado disso é o baixo impacto desses trabalhos na economia. Na média mundial, o índice que mede os efeitos de pesquisas científicas no crescimento econômico é de 1. No Brasil, está em 0,8.

Diante desse quadro desolador, esperava-se um grande empenho dos gestores públicos em dar uma forte guinada no campo das pesquisas e da ciência como fonte propulsora do desenvolvimento. Mas o que se vê é exatamente o contrário. Os burocratas definiram que o Ministério da Educação e, por tabela, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) terão o orçamento reduzido em 15% em 2019. O risco é de que os mais de 400 mil bolsistas de mestrado, doutorado, pós-doutorado, inclusive para o ensino básico, deixem de ser pagos. É inaceitável.

Compreende-se que o Brasil vive uma crise fiscal sem precedentes. Que este será o quinto ano consecutivo com as finanças no vermelho — o deficit poder chegar a R$ 159 bilhões. Mas há muitas outras despesas que podem ser cortadas antes de se passar a tesoura nos investimentos em ciência e pesquisas. São trabalhos fundamentais para a descoberta de tratamentos para doenças que ainda não têm cura, para colocar o país num mundo cada vez mais tecnológico, para revolucionar a produção. Prefere-se torrar a montanha de impostos que o Estado arrecada com uma máquina inchada e ineficiente.

Olhando para a Esplanada dos Ministérios, há necessidade de se ter tantas pastas que só servem como cabides de indicados políticos? O país realmente precisa de tantos senadores e deputados, que torram os recursos públicos como se o caixa da União não tivesse fundo? O Brasil tem mesmo que arcar com um Judiciário tão pesado e caro? Friamente, a resposta é não. Mas as corporações são fortes demais para fazer valer seus interesses. Com isso, professores, pesquisadores, cientistas, mestrandos, doutorandos, que quase não têm voz, ficam ameaçados de perderem o pouco de auxílio que recebem porque as contas não fecham.

A culpa não é do teto dos gastos, uma ferramente extremamente importante para conter a farra fiscal no país. A culpa é da estrutura de despesas, dos sanguessugas que acreditam que podem tudo em se tratando de dinheiro público. O país precisa estabelecer prioridades. E, entre elas, com certeza, estão os investimentos em ciência e pesquisas. O grito de socorro dos estudiosos precisa ser ouvido e replicado. Se a sociedade se calar diante dos cortes que estão sendo anunciados, o retrocesso vencerá. Em vez de um futuro brilhante que a ciência pode proporcionar, vamos ficar atolados no atraso. Certamente, a grande maioria dos brasileiros não quer isso.

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