Sobre as paixões

Roque de Brito Alves
Membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 02/08/2018 03:00 Atualizado em: 02/08/2018 06:17

1 – Em nossa compreensão, a história da humanidade é essencialmente a história das paixões, a humanidade sempre foi mais guiada ou dominada pelas paixões do que pela inteligência, pelas ideias ou pelo uso da razão. Comprovando esta nossa teoria, a paixão pelo saber, pela busca da verdade fez nascer a filosofia na Grécia Antiga, a paixão mística caracterizou a Idade Média, a paixão pela beleza originou as maravilhosas obras de arte da Renascença e a paixão pela liberdade gerou os grandes movimentos sociais, políticos e humanitário dos tempos modernos a partir do século 18 enquanto a paixão pela vida dos pintores impressionistas do século 19 levou a arte para o ar livre, para as ruas, para o contato com o povo.

2 – Sem dúvida, uma vida sem paixão não mereceria ser vivida, seria monótona, triste, pois nada pode ser criado ou ser feito sem paixão. A melhor coisa da vida é fazer o que se gosta, o que se ama, é fazer com muito calor humano e não se trabalhar somente por obrigação ou pelo simples cumprimento de um dever. Acima de tudo, Deus é amor, é caridade e o amor pelo outro que é meu irmão torna o homem mais humano, enquanto o amor pela Filosofia, pela Ciência, pelo Direito, pela Arte torna mais viva a paixão pela cultura.

3 – Cientificamente, são distintas a emoção e a paixão pois esta é um sentimento mais permanente, mais profundo, duradouro, enquanto a emoção é algo momentâneo, mais agudo, causador de grande perturbação de ânimo. Também cientificamente existem as paixões boas e as paixões más como, respectivamente, o amor e o ódio, paixões de relevante valor social ou paixões antissociais.

4 – Especificamente, o ciúme embora seja um sentimento comum, normal no ser humano, é sem dúvida alguma uma paixão causadora de crime, podendo assim ser qualificada como uma “paixão perigosa”.

5 – A paixão deve ser pelas coisas boas da vida, a paixão que é positiva, que constrói e não a que degrada ou escraviza o homem, atentando contra a dignidade da pessoa humana, que é o fundamento maior do Estado Democrático de Direito e denominamos de quatro “demônios da alma” as paixões como o ódio, a inveja, o ciúme e a vaidade, como paixões negativas, destrutivas que envenenam a alma do homem.

6 – Em seu aspecto legal, pelo vigente Código Penal Brasileiro (art. 28, I), nem a emoção e nem a paixão isentam de pena, em alguns casos poderá haver somente uma sua redução.

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