Editorial As lições do Facebook

Publicado em: 28/07/2018 03:00 Atualizado em: 30/07/2018 09:01

A queda histórica das ações do Facebook — foram US$ 119 bilhões em apenas um dia no valor de mercado — embute importantes aspectos econômicos, mas não há como negar que a empresa fundada por Mark Zuckerberg está pagando um alto preço por ter se envolvido no escândalo de notícias falsas que ajudaram a eleger Donald Trump presidente dos Estados Unidos. O movimento de fake news foi capitaneado pela Cambridge Analytica, com possível participação de agentes russos. Num primeiro momento, os analistas não deram muita importância às denúncias de uso da rede social nas eleições norte-americanas, mas os resultados da empresa, aquém do projetado, explicitaram o impacto do descrédito de abateu a companhia.

A lição que se está tirando do Facebook reforça a importância de todas as mídias combaterem, sem trégua, as notícias falsas. Às vésperas das eleições no Brasil, o compromisso com a verdade tem que ser ainda mais forte, sob o risco de a credibilidade das instituições derreter. Fake news é um ataque à democracia. A sociedade deve repudiar com veemência aqueles que insistirem em adotar esse tipo de estratégia para tentar se favorecer destruindo reputações. Não se pode abrir brechas. Toda atenção é pouca, sobretudo se levarmos em conta que os participantes do pleito eleitoral poderão usar as redes para impulsionar suas candidaturas, conforme decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Tentar desequilibrar a democracia é enganar o eleitor. Como diz o professor Sílvio Meira, da Fundação Getulio Vargas (FGV), “a manipulação das redes é a pior de todas as guerras”. Não se sabe como ela começa nem como ela termina. Democracia não é para ser uma guerra, mas, sim, para ser jogada dentro do debate político, independentemente de quem a população eleger como vencedor nas urnas. Não se pode aceitar o jogo sujo de notícias falsas. Quanto mais limpo é um processo eleitoral, maior é a legitimidade do governo eleito para tocar projetos importantes para o país.

É inegável que há alguns avanços no combate às fake news. Depois de os agentes norte-americanos descobrirem as armações em favor de Trump nos Estados Unidos, França e Alemanha tomaram precauções nas eleições que se seguiram. Mas ainda é necessário fazer muito para que as notícias falsas sejam limadas do processo. A sociedade necessita ser protegida da proliferação de informações falsas por meio de medidas efetivas de combate. Infelizmente, o descrédito no Brasil é grande quanto à capacidade das autoridades de conterem as fake news.

Entre as ferramentas disponíveis em favor da verdade está o jornalismo praticado por empresas que, ao longo do tempo, se firmaram por meio da boa informação. Deixar-se levar por aventureiros é certeza de mergulho no mundo das fake news. O Facebook sentiu o baque e, no Brasil, correu para tirar do ar mais de uma centena de páginas que levavam os eleitores a formarem opiniões equivocadas. Esse tipo de ação nada mais é do que sobrevivência. Os cidadãos de bem cansaram de ser enganados.

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