A Igreja e a crise ambiental

Dom Paulo Garcia
Arcebispo e Primaz da Igreja Episcopal Carismática do Brasil

Publicado em: 24/07/2018 03:00 Atualizado em: 24/07/2018 08:54

Recentemente o Diario de Pernambuco versou, no seu Editorial, acerca do “Retrocesso da questão ambiental no Brasil”. Esse assunto me inspirou a refletir sobre o que a Igreja cristã no nosso país tem contribuído para amenizar esse desafio. A conclusão foi triste. Tive de reconhecer que a Igreja brasileira tem contribuído muito pouco sobre essa questão.

As lideranças religiosas e ecumênicas deveriam inserir, em suas celebrações e ritos, os elementos da natureza. As Igrejas, mais que falar da natureza, deveriam se habituar em falar da criação. Criação remete ao Criador.

Assistimos a todo instante o milagre da criação e a emergência do céu e da Terra. Tudo isso nos leva a uma atitude de gratidão, de veneração e de júbilo. Em nós, surge a consciência ética de cuidarmos desta herança sagrada que Deus nos confiou e que o universo nos entrega dia a dia. Transformar tais ideias em experiências e atitudes faria com que a natureza fosse mais preservada e cuidada.

Se você frequenta algum tipo de Igreja, você já parou para perceber quantas vezes se fala a respeito da natureza? Sobre educação ambiental? Pouco ou quase nunca, seria a sua resposta.

Natureza é vida e  deve ser respeitada da mesma forma que respeitamos o nosso próximo. Hoje um grande de número de pessoas procura a Igreja por inúmeros motivos, o mais comum é buscar uma espécie de cura espiritual para os problemas que as afligem ou basicamente para se sentirem mais próximas de Deus. Esses problemas muitas vezes são causados por essa relação descontrolada entre homem e natureza, onde exploramos a terra até a exaustão e não tratamos de recuperá-la.

O papel social da Igreja é enorme e hoje em dia ela tem alcance amplo, é respeitada e tem milhares de seguidores. Imagine se nos cultos ensinassem um pouco de educação ambiental, da mesma forma que ensinam sobre a Palavra de Deus? Além do mais, nos trabalhos sociais que são realizados por que não incluir também trabalhos de cunho ambiental? Acredito que, assim, poderíamos aproximar mais as pessoas de uma causa nobre e justa, pois, o meio ambiente é de onde retiramos tudo o que necessitamos para viver.

Cuidar da natureza é um princípio bíblico, ordenado por Deus. A Igreja cristã não deve se isentar de sua responsabilidade socioambiental. Deus nos deu inteligência e sabedoria para agirmos no processo de transformação do mundo. A nova ética, os novos valores espirituais fundamentados na Bíblia são a base e reforçam esse agir humano.

Consideramos que o nosso principal desafio é superar a nós mesmos. Superar o nosso “ego”, a ganância (consumismo irresponsável), o orgulho, a soberba, a avareza, a cobiça, o ódio e todo o tipo de pecado ou má conduta que nos leva a afastar da presença do nosso Criador. O problema é sempre o homem.

O alcance satisfatório da justiça social, do desenvolvimento pleno e sustentabilidade planetária dependerão essencialmente do nosso comportamento, da nossa atitude perante o trato com o meio ambiente, do uso adequado da nossa inteligência e sabedoria, acompanhada de toda uma estrutura ético-humana e espiritual do Estado e da sociedade. Precisamos:

Gestar um estilo de vida que integre a justiça e o cuidado da natureza no nosso testemunho cristão;

Integrar as nossas Igrejas numa agenda ambiental que permita às gerações futuras ter uma qualidade de vida que lhes possibilite reconhecer a Deus como o criador de todas as coisas;

Participar de alianças que promovam a consciência ecológica, a busca e vivências de novas alternativas energéticas e a denúncia dos grandes agentes poluidores que continuam a degradar a natureza.

Todos nós somos agentes e vítimas de algo que se poderia chamar de obediência seletiva, no nosso seguimento a Jesus. Mas, confesso que me é difícil entender a nossa indiferença com relação ao meio ambiente. Até parece que o Deus a quem seguimos não é o criador dos céus e da terra! Por que é tão difícil para a Igreja cumprir com a sua responsabilidade de cidadã? É hora de acordar!

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.