Mandela - advogado da paz

Erik Limongi Sial
Advogado, sócio fundador do Escritório Limongi Sial & Reynaldo Alves

Publicado em: 23/07/2018 03:00 Atualizado em: 23/07/2018 09:29

Ao rememorarmos a trajetória de Nelson Mandela, é usual que nos circunscrevamos ao Apartheid, cuja extinção é, com destaque, uma das marcas indeléveis da sua biografia. No entanto, não podemos olvidar que a extinção do Apartheid não foi o único legado de Mandela a partir de sua notável vida pública.

Nascido na África do Sul, no âmbito da Tribo Madiba – daí seu apelido -, com a morte precoce de seu genitor restou criado pela família real do povo Tembu, cujos direitos sucessórios renunciou para trilhar a carreira de advogado. Iniciados na Universidade de Fort Hare - única a aceitar, então, “pessoas de cor” -, e perpassando as Universidades de South Africa e de Witwatersrand, o mesmo interrompeu seus estudos antes de concluir seu Bacharelado em Direito, que apenas foi ultimado após o início do seu longevo encarceramento.

Fundou em 1952 o primeiro escritório de advocacia da África do Sul integrado apenas por sócios negros, o Mandela & Tambo, dedicado à representação legal para africanos negros, que, do contrário, se quedariam sem patrocínio jurídico, haja vista que as demais bancas exigiam honorários mais elevados para a defesa desses, em contraste com valores mais módicos cobrados de clientes brancos. Defenderam centenas de pessoas afetadas pelas leis segregacionistas.

Fiel à defesa da liberdade e à resistência à tirania, proferiu em 20 de abril de 1964 seu discurso público mais famoso (Speech from the dock), aclamado internacionalmente, tendo, poucos dias após, sido condenado à prisão perpétua.

Desprezadas as detenções anteriores, restou fisicamente segregado do convívio social por cerca de 26 anos, dos quais passou inacreditáveis 18 anos na Prisão da Ilha de Robben.

O longo período de constrição não arrefeceu o apoio do povo sul-africano e nem tampouco da comunidade internacional à sua pessoa, tendo sido invulgar causa comum, mundo afora, em todo e qualquer fórum em que a liberdade de expressão e os direitos humanos fossem pauta.

Libertado em 11 de fevereiro de 1990, sob a presidência de  Frederik Willem de Klerk, liderou as negociações com esse último que culminaram na extinção do Apartheid e a pacífica transição para a democracia não-racial na África do Sul, o que granjeou a ambos o Prêmio Nobel da Paz no ano de 1993.

No ano seguinte, venceu as primeiras eleições daquele país por sufrágio universal, tendo sido empossado em maio de 1994 como seu primeiro presidente de governo multiétnico. Em todo o curso de sua longeva vida jamais defendeu ou perpetrou ato de revanche contra os defensores do Apartheid, tendo se mantido fiel à salvaguarda da paz, reconciliação e justiça social.

Se foi inspiração de livros, músicas e filmes no curso de sua trajetória, neste 18 de julho, data de seu natalício, internacionalmente celebrado, a coerência e exemplo de Madiba se mostram, mais do que nunca, um farol a ser seguido.

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