Museu de Arte Sacra de Pernambuco - Maspe: belo e histórico

Lucas Santos Jatobá
Superv. jurídico no TRF/5ª Região. Pós-grad. em Dir. Penal

Publicado em: 19/07/2018 03:00 Atualizado em: 19/07/2018 06:40

Não bastasse o privilégio de contemplar as paisagens naturais olindenses, com seus montes e algo do que restou de nossa Mata Atlântica, abrilhantadas pela vista oceânica que encanta a todos, no alto daquelas íngremes colinas cheias de história da nossa gente – refrigério para pulmões e espírito –, eis que uma multissecular casa conclama o povo a adentrar seus salões repletos de beleza e de sugestões múltiplas de contemplação e de renovação da espiritualidade cristã: o Museu de Arte Sacra de Pernambuco – Maspe.

O prédio do Maspe está edificado no Alto da Sé, em frente à torre do Observatório Astronômico, devendo ser realçado o aprazível contexto de proximidade com a Catedral da Sé e, também, com a Igreja da Misericórdia, e as duas respectivas ladeiras, em extremos opostos. A histórica sede do palacete do Maspe perpassa importantes marcos cronológicos de Olinda – lembrar do período holandês, 1630/1654 –, tendo servido de Casa de Câmara e Cadeia, na época do donatário Duarte Coelho (séc. 16), transformada, posteriormente, em residência de bispos – Palácio Episcopal –, sendo que sofreu, no curso dos séculos, variadas intervenções arquitetônicas. Passados 40 anos desde a sua inauguração, em 1977, o Maspe oferece acervo sacro de peças que remontam ao séc. 17, surpreendendo pelo bom estado de conservação das imagens – de variadas dimensões, materiais e estilos – e dos objetos litúrgicos advindos de antigas igrejas da Arquidiocese de Olinda e Recife.

Destacam-se, pelos ricos detalhes temáticos e elementos simbólicos incrustados nas obras, os vários São Miguel Arcanjo, São João Batista, Santo Antônio, São José e os trabalhos que remetem à intensa devoção popular, a exemplo de São Paulo e Santo Agostinho, dos Santos Negros, das Santas Clara, Luzia, Rita, Isabel e Sant’Ana Mestra, além das imagens evocativas da Mater Dei – Conceição, Piedade, do Ó, Nordeste, Mãe dos Homens, Saúde, Rosário, Glória, Boa Morte, Dores...–, do Kyrios, com representações do Cristo Crucificado, de Mãos Atadas, Jesus Menino, etc., bem como de vestes sacerdotais, turíbulos, oratórios, ostensórios e telas de pintura cusquenha com cenas da Flagelação. Também de extrema importância histórico-artística, os Santos de Roca, comumente partícipes em procissões.

São tesouros da humanidade, o próprio Maspe e seu acervo, agora sob a competente direção do Pe. Rinaldo Pereira, exemplo de vocação sacerdotal e de boa gestão de espaço cultural de magnitude histórica e que, em breve, torcemos, possa despertar o interesse de universidades e de outras academias e curadorias museológicas, para a promoção de intercâmbios de estudos e de mostras afins à temática sacra, que, sabemos, comunica-se com inúmeras áreas do conhecimento.

Pe. Rinaldo, ao ressaltar as funções pastoral e evangelizadora da arte, intrínsecas a um museu eclesiástico, notadamente em uma época de laicismos como a nossa, pontua, na introdução do belíssimo Catálogo do Maspe, editado pela Cepe, que tal equipamento cultural, além de ser um “monumento à fé, à cultura e à história de um povo”, deve coexistir com o Estado, mesmo sendo este “laico, mas não ateu ou antirreligioso”. Vida longa ao Maspe e ao seu atual diretor!

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