Editorial Beleza exige precauções

Publicado em: 19/07/2018 03:00 Atualizado em: 19/07/2018 06:40

O Brasil é recordista em cirurgia plástica estética. No ano passado, foram 1,49 milhão de procedimentos em todo o país, quase 13% do total mundial, segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica, que congrega 2,7 mil membros em 95 países. Superou os Estados Unidos, onde foram feitas 1,45 milhão de intervenções. A preocupação com a beleza, e a boa forma do corpo e o desejo de retardar as marcas naturais da idade é cada vez maior no país.

Até mesmo os adolescentes buscaram os serviços da medicina para corrigir traços que consideraram indesejáveis. Em 2017, 90 mil jovens se submeteram à cirurgia plástica, influenciados pela ditadura da beleza, conforme estudo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. O Brasil, na comparação com outros países, é um dos mais exigentes em relação à aparência.

A bancária Lilian Quezia Calixto Jamberci, 46 anos, morreu após se submeter ao procedimento estético, no Rio de Janeiro, com o médico Denis César Barross Furtado. A intervenção ocorreu no apartamento do médico, na Barra da Tijuca. A bancária teve uma reação adversa, foi levada ao pronto-socorro, mas não resistiu. O médico tinha pelo menos 15 ocorrências policiais registradas contra ele, em Brasília, por exercício ilegal da medicina. Mas ele fazia grande sucesso no Facebook, com milhares de seguidores.

Hoje, a busca pelo corpo perfeito se tornou uma religião com milhões de adeptos, o que tem chamado a atenção dos especialistas e assegurado a expansão das academias, elevado o lucro da indústria de cosméticos e, lamentavelmente, abrindo brechas para que profissionais com capacidade duvidosa coloquem em risco a vida das pessoas. Ganhar músculos, exibir um físico atlético e adiar o quanto possível as marcas de expressão inevitáveis com o passar dos anos vêm se tornando uma obsessão.

Especialistas avaliam que as pessoas não medem esforços para moldarem o corpo. Recorrem ao que está disponível no mercado, como dietas rigorosas, nem sempre com o acompanhamento profissional recomendável. Correm atrás de lançamentos das indústrias de cosméticos, medicamentos, anabolizantes e, por último, vão para a mesa de cirurgia para que o bisturi dê a forma sonhada. A boa aparência se tornou quase um quesito do currículo profissional — sem ela, o fracasso parece ser algo inevitável. Esse sentimento está, em boa parte, associado, aos modelos exibidos pela publicidade para vender de roupas a carros, bebidas e tudo mais que movimenta o mercado de consumo. Os personagens são protótipos do que significa ser bem-sucedido.

Há quase uma paranoia para se chegar à forma escultural sonhada. Essa busca nem sempre é precedida dos cuidados indispensáveis à boa saúde. Falta orientação, educação e consciência de que a máquina do corpo é falível e milagres não existem. Os exercícios em academias, dietas aliementares e procedimentos cirúrgicos estéticos exigem sempre a consulta e o acompanhamento de profissionais reconhecidamente capacitados para isso. Não há outra opção para evitar que a busca da beleza se transforme em tragédia.

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