Editorial Educar pela paz no trânsito

Publicado em: 18/07/2018 03:00 Atualizado em: 18/07/2018 08:50

Mais de 37 mil brasileiros morreram vítimas de acidentes de trânsito em 2016. A taxa por 100 mil habitantes ficou em 18,1. Em números absolutos, o Brasil detém a quarta posição no triste ranking mundial de acidentes letais nas estradas. Mesmo com a ressalva de que somos a quinta maior população do planeta, temos quatro mortes por hora nas pistas. Vivemos tragédias diárias. A falta de políticas de segurança viária a longo prazo; as falhas na fiscalização; campanhas educativas que não sensibilizam os condutores, somadas à resistência dos motoristas em respeitar as normas legais, têm impedido o país de avançar na redução de óbitos por transportes terrestres.

No livro Saúde Brasil 2017: uma análise da situação de saúde e os desafios para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, do Ministério da Saúde, as notícias não são boas. O país dificilmente cumprirá a meta da década (2010-2020), de reduzir à metade as mortes no trânsito. A previsão é de que a queda será de apenas 11,9% em relação a 2010.

O projeto Vida no Trânsito, coordenado pelo Ministério da Saúde, com a participação de vários ministérios, foi criado para desenvolver ações de intervenções em fatores de risco para acidentes e obteve avanços. Talvez o mais significativo tenha sido o chamado esforço legal: mudanças na legislação para tornar mais graves as punições para as condutas que, sabidamente, ampliam as chances de fatalidades. Os destaques vão para a tolerância zero à combinação álcool e volante, a Lei Seca; o reajuste dos valores das multas; o agravamento de infrações como dirigir falando ao telefone; para ultrapassagens em local proibido entre outras.

Os números mostram que a tendência de mortes está estabilizada. Tem morrido menos pedestres, porém, mais motociclistas perdem a vida no asfalto. Na semana passada, o Governo do Distrito Federal deu um passo importante em direção a um trânsito mais seguro: Brasília terá a Zona 30. Vias ou regiões inteiras terão a velocidade máxima limitada a 30km/h. Não é a primeira ação do governo neste sentido. As medidas começaram a ser adotadas em novembro do ano passado, com a redução da via principal do Lago Norte, de 70 km/h para 60km/h. Vias em outras cidades do DF também passaram por mudança, apesar da crítica de parte da população.

Exemplos de que a política de restrição da velocidade dá resultado não faltam. Na América Latina temos Buenos Aires, na Argentina, Bogotá, na Colômbia, e Santiago, no Chile. Na Europa, Paris, França também recorreram à medida. A explicação é simples: quanto maior a velocidade, maior a gravidade do acidente. O DF será uma das poucas unidades da Federação que alcançará a meta da ONU, reduzindo em 50% os óbitos entre 2010 e 2020.

É urgente que o governo brasileiro inclua na grade curricular das primeiras séries ao ensino médio (pelo menos) a disciplina segurança no trânsito. A educação tem papel transformador em todas as esferas da vida em sociedade. Só teremos motoristas civilizados a partir do momento em que formarmos a primeira geração de crianças, adolescentes e jovens. Estes, sim, ao tirarem a carteira de motorista, estarão muito mais preparados e educados para promover a circulação segura e respeitosa pelas cidades.

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