A Copa e a Rússia José Luiz Delgado Professor de Direito da UFPE

José Luiz Delgado
Professor de Direito da UFPE

Publicado em: 17/07/2018 03:00 Atualizado em: 17/07/2018 10:29

Talvez não haja, sobre a Terra, espetáculo humano como a Copa. Com igual fascinação. Com a variedade de reunir tantos povos. Com tanta vibração e tanto entusiasmo. A cada quadriênio, ainda mais empolgante. Ouvi-la pelo rádio em 1954 ou em 1958; vê-la, em 1970, pela primeira vez ao vivo pela televisão, mas em preto e branco, é uma coisa; e vê-la agora, não só a cores, mas com a excelência dos recursos tecnológicos atuais, é deslumbramento sem igual.

E saber como ela começou, com quais imensas dificuldades. Como começou a própria FIFA, hoje tão poderosa e palco de tantos escândalos, mas, no início, minúscula, débil, e enfrentando a resistência dos ingleses, que, inventores do futebol, se achavam donos dele e desprezavam o resto do mundo. Foi façanha dos continentais, os franceses à frente, conseguirem reunir muitos países numa Federação de futebol. Façanha ainda maior foi realizar uma primeira Copa mundial, o que se deveu sobretudo ao Uruguai, e especialmente a um empresário uruguaio que praticamente financiou tudo. Depois de mais duas competições, realizadas na Europa, houve o intervalo da guerra. Em seguida, a hora do Brasil: primeiro, a decepção terrível de 1950, depois a geração magnífica de 58 a 70, de Pelé e Garrinha: que diferença desses farsantes de agora! E logo, a revolução que se deve sobretudo a João Havelange: dobrar o número de participantes da Copa, facilitar o acesso dos africanos e dos asiáticos, congregar o mundo todo. Com o concurso, cuja dimensão nem se pode avaliar, da televisão.

Agora, a excelente escolha da Rússia. Para revelar ao mundo um gigantesco e admirável país, que tanto tempo passou oculto. O mundo fez agora, com a Copa, uma verdadeira descoberta da Rússia. E a Rússia de fato, afinal, se integrou ao mundo. Para contemplarmos a alegria de seu povo e recordarmos alguma coisa de sua história – sobretudo a resistência inigualavelmente heroica diante da invasão nazista. Para admirarmos, mesmo de longe, somente pela televisão, a grandiosidade de suas cidades, a riqueza de seu patrimônio arquitetônico, a beleza de seus grandes templos e grandes prédios. É notável que os comunistas ateus, mesmo tendo derrubado algumas igrejas, não as hajam destruído todas, e, ao cabo, tenham preservado o principal da alma russa, contida nos templos monumentais e nos belíssimos palácios dos czares. Não por acaso a inteligência de Stalin soube, na hora crucial, abandonar as fantasias do internacionalismo proletário e apelar para o sentimento patriótico russo – “a nossa pátria mãe russa”.

É hora de aproveitar esse encontro com a Rússia, afinal liberta do comunismo que a escravizava, para também voltarmos à sua literatura, que é uma das literaturas nacionais mais poderosas do mundo, tantos são, sobretudo, os seus excepcionais romancistas. Se não tiver havido, por lá, na reforma dos estádios, a corrupção vergonhosa que grassou aqui, a Copa terá sido um momento excepcional para a vida da Rússia e para a própria história do mundo.

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