Pernambuco festeja centenário de Hermilo

Raimundo Carrero
Escritor e jornalista

Publicado em: 16/07/2018 03:00 Atualizado em: 17/07/2018 09:29

Hermilo Vive! No centenário do seu nascimento, a obra de Hermilo Borba Filho está sendo reeditada pela Cepe,- a nossa editora oficial que abriu as portas para a criação pernambucana nesta notável administração de Ricardo Letão - e os leitores mais jovens têm a oportunidade de ler aquele que foi sempre um guerrilheiro da palavra tanto na literatura – romances, novelas, contos – quanto no teatro, em artigos para jornais e revistas, no cinema – roteiros e esquetes – e onde pudesse manifestar a qualidade do seu texto, sempre no front. Quem tanto amou e lutou pela cultura faz sua respiração intelectual se desdobrar por muito tempo. Por isso se diz que é imortal.

Imortal, sabe-se , não é o homem, mas a obra. A imortalidade está reservada ao que produz. Faz algum tempo que defendo a reedição da obra de Hemilo o que começou a ser feita na década de 80 com a publicação do romance Margem da Lembrança, primeiro volume da tetralogia Um Cavaleiro da Segunda decadência, pela Editora Mercado Aberto. Por razões que desconheço, não foram publicados os outros três romances –Porteira do Mundo, Cavalo da Noite e Deus no Pasto.

Ainda nas décadas de 2008 e 2009 defendi a reedição da obra deste escritor monumental. Chegara a hora do Governo Estadual investir num intelectual que lutou a vida inteira para questionar, debater e esclarecer a nossa cultura, mas não aconteceu o que eu imaginara. Talvez porque Leda Alves presidia a Cepe e os escrúpulos naturais devem ter evitado a realização deste projeto necessário. Lamentei e esperei que as coisas acontecessem. O trabalho de um intelectual deste porte está muito além destes escrúpulos. Vivo, Hermilo evitaria o projeto, sem dúvidas. Era uma pessoa extremamente criteriosa. Leda também.

Já foram publicados os contos de Hermilo, em dois volumes, todos marcados pela cultura popular com força política, até porque o autor trabalhava com aquilo que Sartre chamava de obra engajada e que marcou, profundamente, a literatura brasileira na segunda metade do século XIX. Ele não entendia as artes sem um forte conteúdo político e a ele se dedicou completamente.

Está sendo publicado também o romance Sol das Almas, com prefácio meu, e que me parece a melhor criação literária de Hermilo, com a força incrível dos personagens que se manifestam numa crise religiosa numa fuga de trem.

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