Editorial Um surto de irresponsabilidade

Publicado em: 14/07/2018 03:00 Atualizado em: 14/07/2018 16:23

Deputados e senadores parecem não ter limites. Sem a menor preocupação com país, aprovaram medidas que, se colocadas em prática, vão resultar em gastos adicionais de R$ 100 bilhões por ano a partir de 2019, quando tomará posse o presidente da República. Suas excelências estão preocupadas apenas em fazer populismo com os cofres alheios, acreditando que, desta forma, terão votos suficientes para renovarem os mandatos.

Trata-se de uma responsabilidade sem tamanho. Quem acompanha o dia a dia das contas públicas sabe que o Brasil caminha rapidamente para a insolvência. Este será o quinto ano consecutivo de deficit nas finanças federais. A perspectiva é de que o rombo chegue a R$ 159 bilhões. A previsão para o próximo ano, sem as estripulias do Congresso, é de um buraco de até R$ 139 bilhões. Na melhor das hipóteses, as contas do país só sairão do vermelho em 2021.

Os constantes deficits públicos estão estrangulando o país. Como a margem para cortes de gastos é cada vez maior — mais de 90% das despesas são obrigatórias —, o governo está sendo obrigado a restringir investimentos. Ou seja, obras de infraestrutura, por exemplo, que são vitais para impulsionar o crescimento econômico, sumiram do mapa. Levando em conta que setor privado também não está investindo, por causa das incertezas políticas, é possível supor que o Produto Interno Bruto (PIB) continuará patinando. No governo, já se admite avanço de apenas 1% neste ano. Um desastre.

Chama a atenção que, mesmo partidos que se dizem comprometidos com o ajuste fiscal, como o PSDB, vêm patrocinado a pauta-bomba do Congresso. Trata-se de um surto de irresponsabilidade, que custará caro para a população. Contas públicas desajustadas significam mais endividamento e mais juros. Estima-se que, somente por causa do crescimento dos débitos nos últimos anos, entre 2019 e 2020, a União terá que pagar R$ 110 bilhões a mais do que o previsto em encargos da dívida. Esse dinheiro, certamente, poderia ser destinado à melhoria da saúde e da educação. Mas vai engordar os lucros dos bancos.

Há um ditado popular que diz: o que está ruim pode piorar. Pois o Brasil está confirmando, mais uma vez, a sabedoria das ruas. É incrível que nenhum dos candidatos à Presidência da República se levante e alerte para os riscos de se inviabilizar o país a partir do ano que vem. Se os cálculos dos especialistas estiverem corretos, o futuro governante já assumirá com a obrigatoriedade de cortar quase R$ 70 bilhões. Ou fará isso, ou poderá incorrer em crime de irresponsabilidade fiscal, o que lhe custará o mandato.

Não há porque correr tamanho risco. O silêncio, neste momento, por conveniência será uma passagem para o desastre. Um novo governo deve trazer esperanças, não frustrações. O Brasil precisa, urgentemente, voltar a crescer para criar emprego e distribuir renda. Já perdemos tempo demais. Deixar o futuro para depois é inconcebível.

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