O barulho de Tejo e Canindé (II de II)

José Paulo Cavalcanti Filho
Jurista e membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 13/07/2018 03:00 Atualizado em: 13/07/2018 09:36

Orlando Tejo pediu dinheiro a um agiota, por nome Canindé. E nada vinha. Escreveu versos espinafrando o coitado – tudo como indicado da coluna do fim de semana. Ocorre que o amigo Luiz Berto avisou, logo em seguida, que havia chegado. Então nosso Tejo, com remorsos por ter falado tão mal do pobre Canindé, resolveu a questão escrevendo outros versos. Agora em homenagem ao tal cidadão:

NOSSO AMIGO CANINDÉ

Um sujeito despeitado,
Desses de baixa maré,
Inventou que Canindé
É um canalha safado.
Eu fiquei preocupado
Com a informação ralé,
Porém não perdi a fé
Em quem merece louvores...
E haja palmas e haja flores
Na fronte de Canindé.
Tenho dito e sustentado
(Todo mundo sabe disso)
Que na Câmara, esse cortiço,
Há um cidadão honrado,
Pai de família extremado,
Homem de bem e de fé!
O Papa já disse até
Que há no torrão brasileiro
Padre Cícero em Juazeiro
E em Brasília, Canindé.

Sei que o Papa tem razão,
Mas ninguém quer saber disto.
Se já falaram de Cristo,
Que se dirá de um cristão
Porém a fofoca não
Atinge um homem de fé.
E se eu descobrir quem é,
Meto a mão no pé do ouvido
Do sem-vergonha enxerido
Que falar de Canindé.

Canindé – nome decente!
Tolentino – ô nome macho!
Ribeiro – lindo riacho
Que mata a sede da gente!
Honrado, amigo e valente,
Subiu da glória o sopé...
A Virgem de Nazaré
Já lhe envolveu com seu manto,
Por isso um caminho santo
Vai trilhando Canindé.

Canindé pra ser beato
Só falta mesmo a batina,
Pois tem vocação divina
Pureza, fé e recato!
Por isso ele é o retrato
Mais fiel de São José
E já se comenta até
Que Frei Damião Bozano
Sugeriu ao Vaticano
Canonizar Canindé.

Mas sabem por que razão
Já querem canonizá-lo?
É por causa de um estalo
Que recebeu nosso irmão
Lá nas margens do Jordão,
Ao lado de São Tomé,
Quando dava cafuné
Numa velhinha doente
E morreu a penitente
Nos braços de Canindé.
Nesse chão onde ele pisa,
Por ser grande patriota,
Se faz até de agiota
Pra ajudar a quem precisa.
Mas não comercializa
A sua alma de fé!
Jamais ganhou um café
Pelo dinheiro que empresta...
Caridade é uma festa
Pra alma de Canindé.

Santo Agostinho, dos santos
Foi o mais puro entre os ermos
Que consolava os enfermos
E lhes enxugava os prantos.
Obrava milagres tantos,
Pela pureza e a fé
Pois acreditava até
Em fala de passarinho.
Mas sabem? Santo Agostinho
É pinto pra Canindé.

No fim, o infeliz agiota sofreu para receber sua grana. Mas ganhou versos, em troca. Ficou no lucro. Perdemos um gênio. Abraços para Luiz Berto. E homenagens ao grande Orlando Tejo.

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