Editorial Na rota do retrocesso

Publicado em: 12/07/2018 03:00 Atualizado em: 12/07/2018 09:01

Entre 2005 e 2012, o Brasil reduziu em 57% as emissão de gases estufas, consequência direta da queda no índice de desmatamento. Com as mudanças do Código Florestal (2012), impostas pela bancada ruralista no Congresso Nacional, o poder público passou a flexibilizar a legislação vigente, ampliando as possibilidades de supressão de áreas verdes. Hoje, o país está prestes a perder a capacidade de cumprimento das metas assumidas perante o Acordo de Paris, chancelado por 195 nações, em 2015. O alerta foi feito por estudiosos brasileiros do Instituto Alberto Luiz Coimba de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em artigo publicado na revista internacional Nature Climate Change, que circulou no fim de semana.

Em setembro de 2016, o Congresso Nacional ratificou os compromissos brasileiros contidos no Acordo de Paris. O país deverá, até 2025, reduzir em 37% , tendo como parâmetro os níveis de 2005, as emissões de gases de efeito estufa e chegar a 2030 com uma queda de 43%. Mais: elevar em 18%, nos próximos 12 anos, a participação de bioenergia sustentável e de 45% de energias renováveis na composição da matriz energética, além de restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares.

Entre o acordado e o cumprido vai uma grande distância no Brasil. De acordo com os estudos, até 2025, estima-se que o país terá perdas de 27 mil km2 de matas na Amazônia e 18 mil km2 no cerrado, o que compromete a meta de redução das emissões de gases de efeito estufa pelo controle de desmatamento. Mantida a tendência dos últimos três anos, Alexandre Szklo, do Programa de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ, prevê que o Brasil não será capaz de alcançar as metas do acordo climático de Paris.

Estudo recente da Organização Internacional do Trabalho (OIT), com base no Acordo de Paris, ante a crise que mantém mais de 13 milhões desocupados, avalia que uma guinada ecológica beneficiaria 137 entre 163 setores econômicos. Outros 26 perderiam postos de empregos. A construção civil, um dos termômetros da economia nacional, teria o maior potencial de ofertar oportunidades. Os impactos também seriam muito positivos na agricultura. Embora haja outros estudos que garantam que a economia verde pode ser tão ou mais lucrativa do que as práticas convencionais, o Brasil está longe de dar um salto de qualidade nesse campo.

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