Opinião Cronicas verde-amarelas

Luzilá Gonçalves Ferreira, doutora em Letras pela Universidade de Paris VII e membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 10/07/2018 03:00 Atualizado em: 10/07/2018 14:23

Um livro para agradar, interessar, divertir mais de duzentos milhões de leitores, esse de Cronicas Verde-amarelas. Uma ótima ideia da Companhia Editora de Pernambuco, que o publicou, um inestimável e bem bolado (gostaram dessa aproximação semântica ?) arquivo pra interessados por futebol. De fato, muito mais do que um livro sobre esse esporte que move, comove e remove corações, essas crônicas são um tesouro para aficcionados.

Um precioso registro escrito visual e auditivo de alguns de nossos maiores lances no esporte, e por mais de um século, em reunião de cartas imaginárias e imaginadas pelo escritor, jornalista André Teixeira,   fotógrafo, roteirista, especialista em economia sustentável e meio ambiente. E como se não bastasse, essas deliciosas crônicas, nos chegam ilustradas com o traço sensível, inteligente, seguro de Ricardo Melo, caricaturista, desenhista, diretor de Produção e Edição da Cepe, responsável por algumas das melhores publicações referentes à cultura pernambucana nos últimos anos.

Inspirado pela paixão do futebol, André imagina o que poderiam nos dizer, se falassem com palavras, a bola, a trave, as chuteiras, o apito, o radinho de pilhas, e até a taça Jules Rimet, diante do jogo futebolístico. E não faltam aqui citações de autores conhecidos, como  Armando Nogueira, Nelson Rodrigues, e até o circunspecto Alceu Amoroso Lima, entre outros. Vejam o que diz Armando: “A vida de um jogador de futebol começa numa bola de meia. Ninguém sabe ao certo quem, abaixo de Deus, dispõe sobre a sorte dessa mágica aliança entre um menino e um brinquedo.” E Nelson: “O escrete é a pátria em chuteiras.”

A Bola se desculpa pelo que pode acontecer diante do povão todo na arquibancada, ao qual oferece alegria ou tristeza: “ Adoro brincar, tô sempre pronta, basta um toque e  vou pro jogo, mas quem dá as cartas sou eu.” A trave se explica, lembrando que a felicidade de uns é sempre a tristeza de outros: “É culpa minha se a bola, essa brincalhona, teima em me acertar? Meu negócio é ver gente feliz.” As chuteiras não esquecem que antes dela os pés estavam descalços, os tênis surrados ou com chinelos velhos, mas logo os meninos deram uma de gente grande, e se habituaram ao atrito dos calos.

Mas Alceu Amoroso Lima está acima de todos e não se engana: “ Passam os regimes. Passam as revoluções. Passam os partidos. Passam os generais ou os bachareis. Pouco importa. O Brasil resistirá à passagem de todos eles. Mas se um dia passar o futebol, ai de nós”. Cada uma dessas crônicas é encerrada com uma preciosa indicação de ordem internética: como encontrar na Rede a reprodução de momentos decisivos de nossa atuação através desses anos de futebol. Um verdadeiro presente da Cepe. Cronicas verde-amarelas também pode ser encontrado na sede mesmo da Companhia Editora de Pernambuco, rua Coelho Leite. A não se perder.

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