Sobre a hegemonia europeia nas Copas

Maurício Rands
mrcbarros10@gmail.com - Twitter: @RandsMauricio
Advogado, PhD pela Universidade Oxford, Secretário de Acesso a Direitos da OEA. As opiniões são pessoais

Publicado em: 09/07/2018 03:00 Atualizado em: 09/07/2018 06:15

O cinema de Hollywood foi um poderoso instrumento de soft power dos Estados Unidos. Hoje as novas tecnologias aumentam-no. Para os brasileiros, o futebol é um desses instrumentos. Por onde andamos, ouvimos ou vemos a torcida pela Seleção Brasileira na Copa. Como no Haiti, onde multidões se reuniram para ver o time do Brasil jogar na Rússia. No Chad, na África, certa vez vi jovens com a camisa de Ronaldinho. O que me fez levar camisas do Brasil e do Náutico para distribuir com o pessoal do Hotel Kempinski, em Ndjamena, na viagem seguinte. Muitos identificam a arte no futebol a um certo estilo brasileiro. O que nos deixa ainda mais tristes com os fracassos em já quatro copas seguidas. Nessas, de favoritos iniciais a eliminados, nossos canarinhos estão erodindo a lenda que construímos nas cinco taças levantadas. Triste sina que adiou o momento em que os alvirrubros pernambucanos vamos partilhar o luxo do hexa com a Seleção Brasileira. Esse sonho de partilha ficou para 2022.

Desde o Japão em 2002, a hegemonia europeia tem sido inconteste. A Itália derrotando a França na final de 2006. A Espanha derrotando a Holanda na de 2010. A Alemanha derrotando a Argentina em 2014. Agora, na Rússia, teremos nova final confirmando a hegemonia. Que o campeão sairá das semifinais para onde só passaram europeus (França x Bélgica, Inglaterra x Croácia).

Quais as razões da hegemonia da Europa, que tem levantado a taça desde 2006? Claro que a estrutura econômica e institucional, logo dirão alguns. Que atrai os melhores talentos das Américas e da África. Veja-se como melhoraram a Inglaterra, a Suiça e a Bélgica com a forte presença de latinos e afrodescendentes migrantes nos seus times. Outros fatores são a extraordinária competitividade das ligas europeias e a grande quantidade de países em que o futebol é esporte preferido. Diferente de países como os EUA, a Venezuela ou Cuba, que preferem o beisebol, o basquete ou o futebol americano. Mas também existem os fatores explicativos de ordem subjetiva. A organização, a disciplina tática, o espírito de equipe e o equilíbrio emocional que, às vezes, superam o talento individual. Fatores que, combinados, explicam que a América Latina e a África já estavam quase sem representantes nas quartas de finais. Apenas Brasil e Uruguai chegaram até lá, logo varridos das semifinais. Claro que o sistema de mata-mata realça o fator sorte ou acaso. Contra a Bélgica poderíamos ter tido um pouco mais de sorte. Nossa vitória não teria sido injusta. Mas a tendência recente de predomínio europeu não pode ser explicada apenas pela sorte. Nem tampouco somente pela maior estrutura, organização e competitividade de seu futebol. Há que considerar que futebol é trabalho de equipe. E que é melhor jogado quando se tem equilíbrio emocional. A Argentina e o Brasil pareciam imaginar que seus reizinhos Messi e Neymar, sozinhos, poderiam fazê-los ganhar. Esbarraram na falta de equilíbrio psicológico de ambos. Um, depressivo e facilmente abatível. O outro, com um ego maior do que si mesmo. Que diminui a sua eficácia. Da Rússia, fica a conclusão de que o trabalho de Tite pode continuar e gerar bons resultados. Poderemos nas próximas competições avançar em nossa organização tática, disciplina e preparação emocional. Agora, conscientes de que os gênios individuais não estão apenas entre nós. E que eles não bastam para erguer a taça do hexa.

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