Editorial Olhar de solidariedade

Publicado em: 06/07/2018 03:00 Atualizado em: 06/07/2018 08:37

A imigração é a principal preocupação dos países da União Europeia. Dividido, o bloco busca saída para dar resposta civilizada à onda de estrangeiros ilegais que batem à porta do continente. Mal chega o verão, o mundo presencia o triste espetáculo de barcos inseguros que partem sobretudo da África rumo à Europa. O Mediterrâneo chegou a ser chamado de mar da morte.

Em reunião realizada em Bruxelas, os chefes de governo dos 28 Estados chegaram a consenso sobre o assunto. Dois pontos merecem destaque. De um lado, a distribuição dos refugiados por diferentes países. Os milhares de pessoas deixariam, assim, de pressionar a Itália e a Grécia, cujos portos são a principal entrada dos que buscam um lugar para viver e criar a família. De outro, a abertura de centros de acolhida e processamento de pedidos de asilo a serem instalados voluntariamente pelos países-membros.

A chanceler alemã, Angela Merkel, lembrou que ainda há muito a fazer. É verdade. Um dos desafios é absorver o passivo. Desde 2014, 1,8 milhão de seres humanos chegaram pelo Mediterrâneo. Onde assentá-los? Outro é lidar com os recém-chegados. Nos dois últimos anos, a pressão se reduziu. O número real de imigrantes chegou ao nível anterior a 2015. Como a maioria desembarca na Itália e na Grécia, Roma e Atenas querem urgência na redistribuição para não arcarem com o ônus sozinhas.

Vale lembrar que não faltam líderes populistas de extrema-direita que querem tirar proveito da tragédia humanitária. É o caso do premiê da Hungria, Viktor Orbán. O governo por ele encabeçado aprovou lei que criminaliza cidadãos que ajudam imigrantes sem documentos. É o caso, também, do italiano Giuseppe Conte, que fechou os portos do país para barcos de resgate humanitários. Mais: a alemã Angela Merkel recebeu ultimato do ministro do Interior para encontrar solução multilateral para o problema. Em caso de fracasso, contrariaria a chanceler e expulsaria imigrantes ilegais nas fronteiras.

Felizmente a voz dos extremistas não encontrou eco. O resultado da cúpula é alentador — embora acene com longo caminho a percorrer até a solução definitiva para o drama que aflige o século 21. A Europa reafirma os valores que ajudaram a construir a civilização ocidental. Impôs-se a solidariedade sobre o egoísmo. Respeitaram-se as páginas da história escritas com a tinta do humanismo e da tolerância.

O Velho Continente se lembrou de que colonizou o Terceiro Mundo, com cuja riqueza acumulou a abundância de que usufrui e com cuja mão de obra reconstruiu o continente destruído por duas guerras mundiais. Mais: com população envelhecida e baixa natalidade, são os imigrantes que trabalham e financiam a deficitária e generosa máquina de aposentadoria e previdência da União Europeia. Por sorte, a UE manteve no chão os muros que a globalização derrubou.

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