De volta para o passado

Marcos Pena Júnior
Economista

Publicado em: 05/07/2018 03:00 Atualizado em: 05/07/2018 10:53

O doutor Emmett Brown está prestes a testar sua máquina do tempo - seu Delorean DMC-12 equipado com sua criação para viagem temporal, o “capacitor de fluxo” - e convidou seu amigo, o adolescente Marty McFly, para acompanhar o teste. Depois de uma série de acontecimentos no momento em que o doutor finalizava os preparativos para o experimento, Marty acaba viajando sozinho e voltando décadas no tempo.

Seria algo excelente termos essa máquina disponível em Brasília. Precisaríamos de ao menos 32 unidades dela, uma para cada ministério, mais uma para o Palácio do Planalto e uma para cada casa do legislativo. Com isso, cada vez que alguém sugerisse uma solução simples e elegante para um problema complexo, seria possível viajar ao passado, ver que já passamos pela mesma experiência ou similar e que se trata de uma ideia completamente errada.

Hoje teríamos de fazer uma viagem só um pouco mais longa que a de Marty. O personagem vai até pouco menos de 30 anos antes de seu momento atual. Para nós seria necessária uma viagem até o 1o semestre de 1986, 32 anos atrás. Veríamos o lançamento do Plano Cruzado com sua estratégia de tabelamento de preços; a Superintendência Nacional de Abastecimento (Sunab) em seu auge, definindo tais tabelamentos e fiscalizando seu cumprimento; a população orgulhosa, atuando como “fiscais do Sarney” (com direito a botons de identificação); e, como isso causou profundas distorções na economia do país. Presenciaríamos escassez e desabastecimento de produtos; surgimento e expansão de mercados negros; expressivas e intensas quedas na qualidade dos produtos e serviços; e profundos problemas de corrupção na fiscalização.

Necessitaríamos ter um “trem do tempo” para lotá-lo com burocratas do executivo, legisladores, representantes dos transportadores rodoviários, técnicos das mais diferentes associações, jornalistas e muitos, muitos Martys - cidadãos-eleitores, diretamente interessados na questão. - Que questão? Vocês me perguntam. - Mais óbvio impossível - respondo -, o tabelamento de preços de frete imposto pela Medida Provisória 832/18 (aqui). Todos os passageiros do trem teriam uma cópia da MP em mãos e a tarefa de julgá-la frente à realidade encontrada em 86. Deveriam prestar especial atenção aos termos presentes na MP: preços mínimos, preços fixados, tabela com preços mínimos e natureza vinculativa.

O Marty do filme aprendeu com sua ida ao passado, 30 anos antes do seu próprio tempo, que qualquer coisa que tivesse ocorrido de diferente teria gerado uma realidade diversa daquela realmente ocorrida nas décadas seguintes. Poderia ter tido esse aprendizado direto das leis da física e das reflexões filosóficas. Nossos passageiros também poderiam ter aprendido com as lições da história e as leis da economia. Uma vez que não o fizeram, só o Dr. Brown e sua máquina do tempo para nos salvar.

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