A força da força do trabalho

Moacir Veloso
Advogado

Publicado em: 04/07/2018 03:00 Atualizado em: 04/07/2018 14:16

No dia 25 de maio passado, o país foi surpreendido com a deflagração da greve dos caminhoneiros. Revoltados com os constantes aumentos de óleo diesel e outros derivados do petróleo, essa categoria profissional com assento nos estratos inferiores da pirâmide social, resolveu cruzar os braços. Em 1999, no governo FHC, houve um movimento paredista semelhante, mas rápidas negociações fizeram-no durar apenas três dias. Nesse último, ninguém esperava um montante de prejuízos de toda ordem que viriam em progressão vertiginosa. Apenas cinco dias de greve, e as perdas já somavam R$ 50 bilhões. Fábricas paralisadas, exportações suspensas, colapsos no comércio, animais mortos, além de inúmeros outros efeitos deletérios. As distribuidoras de combustíveis deixaram de vender R$ 11 bilhões; o setor químico, R$ 9,5 bilhões; a pecuária de corte, deixou de movimentar entre R$ 8 e R$ 10 bilhões; isto sem falar na morte de 70 milhões de aves e 20 milhões de suínos, à mingua de ração alimentar. Mais de R$ 3 bilhões de prejuízos. Segundo o Sr. Bruno Luchi, superintendente técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, vão ser necessários ...de seis meses a um ano ... para recuperação. A Confederação Nacional das Indústrias - CNA, estimou suas perdas em R$ 38 bilhões. Segundo a entidade, 45% das seiscentas e sessenta mil empresas do país, ficaram paralisadas por falta de matéria-prima e pela impossibilidade de distribuir a sua produção. Após dramáticas negociações, a greve chegou ao fim em 11 dias. O cenário era de terra arrasada. Cirurgias suspensas nos hospitais, desabastecimento geral e o pior, faltando gás para necessidades básicas domésticas, alimentação, etc... Nesse ritmo, a situação tornar-se-ia de imprevisível potencial catastrófico. Estabelecido o caos, vislumbramos desde logo sua causa imediata: todo sistema econômico, seja capitalista, socialista, comunista, neoliberal lassez-faire, etc... só existe porque tem como força motriz o trabalho humano. Seja dirigindo caminhões, aviões, táxis, ônibus, costurando, lavando pratos, roupas (já imaginaram os efeitos de uma greve das secretárias domésticas?), recolhendo lixo, lecionando, descarregando navios, operando máquinas, computadores, etc... Resta evidente que certas atividades laborais são de importância fundamental para a economia como um todo. É o caso do transporte rodoviário, a cargo dos caminhoneiros que implementam a distribuição de uma miríade de matérias-primas, insumos e mercadorias vitais para funcionamento de os setores da agricultura, da indústria e de bens e serviços. Das categoriais que integram o mundo econômico contemporâneo; mercado – globalização – monopólio – decadência e barbárie, estamos, ao que tudo indica, integrados nas duas últimas. A educação, notoriamente incipiente, representa a decadência, enquanto os mais de 14 milhões de desempregados, materializam a barbárie. Segundo respeitáveis cabeças pensantes de escol, há prognósticos sombrios sobre o futuro do sistema econômico. Vaticinam, que com a globalização, a evolução tecnológica e a mais-valia das megacorporações, o trabalho como o conhecemos agora, irá desaparecer, e será substituído pela automação. Particularmente, não acredito que isto venha a ocorrer nem tão cedo. Afinal, existem nada menos que 1.952.036 de caminhões dirigidos por caminhoneiros, 40% autônomos. Caro leitor, o amigo tem ideia de para onde será deslocada essa imensa mão de obra da qual nossa economia depende diretamente dela para existir? Isto, sem contar com as milhares de carroças e charretes que circulam nos grandes centros urbanos em pleno século 21. Quem viver verá,

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