Editorial Cautela com o comércio externo

Publicado em: 04/07/2018 03:00 Atualizado em: 04/07/2018 08:37

Setores de peso da indústria nacional defendem que num ambiente de guerra comercial global, iniciada com a política protecionista do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o Brasil tem de ser precavido quando o assunto é abertura comercial. Há de se ter limites para a preservação do parque industrial brasileiro, que não pode sofrer competição desleal de produtos importados. Isso não significa virar as costas para o mundo e impor barreiras como as adotadas por Trump, mas ter cautela na hora de abrir o mercado para artefatos fabricados em outros países.

O Brasil não pode e não deve promover de forma ingênua uma abertura comercial unilateral, como vêm defendendo algumas áreas do governo federal. Economistas e empreendedores apostam que o crescente protecionismo mundial, mesmo que diminua no futuro, vai deixar sequelas no comércio internacional e nas cadeias globais de valor. Na avaliação do presidente da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), João Carlos Marchesan, haverá queda dos investimentos externos por parte das empresas transnacionais, acontecerá um rearranjo na divisão internacional do trabalho, o comércio entre as nações sairá enfraquecido e as transações comerciais externas perderão protagonismo para os mercados internos.

É diante dessa constatação de que o Brasil não pode agir ingenuamente e escancarar o seu mercado interno. O bom senso indica que não faz sentido a defesa de uma abertura unilateral como vem sendo proposto em determinados gabinetes palacianos. "Entregar de graça nosso mercado interno, no momento em que os principais players internacionais estão fazendo exatamente o contrário, não é exatamente uma solução inteligente", pontuou Marchesan em entrevista.

O certo é que os condutores na política comercial do país devem ser cautelosos na promoção de uma maior abertura ao comércio internacional, através da redução linear das alíquotas de importação. Industriais brasileiros não acreditam ser essa a solução adequada para a inserção do Brasil no livre-comércio. Além de contrários a simples diminuição das alíquotas, defendem a criação de um ambiente de competição econômica isonômica entre as nações e que o Brasil priorize uma agenda de competitividade. O que só pode ser levado a cabo com as reformas da Previdência e a tributária.

Competitividade que passa, necessariamente, pela produtividade brasileira, considerada ainda bastante baixa, e que só recuperará terreno se o país investir na qualidade da mão de obra, na gestão de recursos produtivos, logística de qualidade, ambiente de negócios favorável ao investimento produtivo, segurança jurídica e um sistema tributário que não penalize quem produz. São muitos os obstáculos para a indústria nacional vencer e se manter em pé. E que o presidente da República a ser eleito apresente uma política industrial adequada aos novos tempos.

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