Festa no Agreste: o Festival de Garanhuns e novos livros

Luzilá Gonçalves Ferreira
Doutora em Letras pela Universidade de Paris VII e membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 26/06/2018 03:00 Atualizado em:

Falta um mês, dirão que é cedo pra se começar a falar do Festival de Inverno de Garanhuns. Que acontece entre 19 e 28 de julho, 27 anos de “bons e loyaux services” (bom e leais serviços), como dizem os franceses, prestados à cultura da região. Não é cedo não: organizar horários, dias de férias, reservar pousadas e hotéis, acomodações em particulares, não se improvisam e já estão acontecendo. Pois a Secretaria de Cultura do Estado ( Secult) e Fundarpe, trabalham desde o encerramento do Fig do ano passado. A Prefeitura de Garanhuns, o Sesc local, a Cepe, Conservatório Pernambucano de Música, Sebrae, reafirmaram parcerias para que se repita o sucesso do Fig 2017. Além dos eventos na praça Dominguinhos, na Praça da Palavra, na Igreja de Santo Antônio ( cantores, lançamentos, feira de livros, palestras, concertos), e as apresentações de música popular no grande palco habitual, este ano no Instituto Histórico, Geográfico e Cultural de Garanhuns, uma participação da Academia Pernambucana de Letras: lançamentos de livros com palestras das autoras e noites de autógrafos: reedição de A bala e a mitra, ensaio sobre o assassinato do bispo D. Expedito, de Anna Maria Cesar, e o lançamento do romance Simoa e seu avô desalmado, de Luzilá Gonçalves Ferreira, história da índia que fundou Garanhuns. Esses eventos serão precedidos por uma homenagem à escritora Luzinete Laporte, um ícone na cultura da cidade, que nos deixou em dezembro passado, e uma conferência de Igor Anderson, sobre Alfredo Leite, um dos maiores conhecedores de história de Garanhuns, em livro que completa meio século. Esta nova reedição de A bala e a mitra traz um subtítulo: Novos tempos e verdades antigas, reproduz documentos cartoriais, cartas, trechos de reportagens e resenhas, entre outras aquela da revista Veja, inexistentes na primeira edição do livro. Um lembrete que honra Pernambuco e a historiadora: o livro faz parte da Biblioteca do Vaticano, e um exemplar para uso pessoal foi pedido a autora, pelo próprio Cardeal Geraldo Magela. O livro de Luzilá, sua sétima obra ficcional, começou a ser redigido há cerca de dois anos, quando, após homenagem a mulheres pernambucanas, pelos vereadores de Garanhuns, lhe foi sugerido que escrevesse sobre Simoa Gomes. O romance conta a vida dessa mulher fundadora, como tantas em nossa história, e retrata o cotidiano da Colônia, retomando documentação autêntica da época: registros de doações, alforria de escravos, relatos sobre a terrível destruição do Quilombo de Palmares e extermínio de índios, por Domingos Jorge Velho, o avô “desalmado” de Simoa, celebrado como herói em nossas escolas. Além do que escreveram missionários franceses sobre a colonização e nascimento de povoações na região do São Francisco, cronistas como Loreto Couto, cientistas Piso e Margrave, vindos a Pernambuco com Nassau. Além da transcrição comentada de poemas sobre mulheres daquele tempo, como a inocente Anna Faria, assassinada pelo marido, filho de Bernardo Vieira de Melo, e Sancha, que morreu de amor no Engenho Andiroba, de Itamaracá, cantada pelo poeta Soares Azevedo. Um mergulho na história de Pernambuco e de nossas mulheres.

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