Editorial Tocantins acende a luz amarela

Publicado em: 26/06/2018 03:00 Atualizado em: 26/06/2018 08:55

A eleição no Tocantins confirma a percepção da apatia que se observa em relação ao pleito de outubro. O vitorioso foi o não voto — com nada menos de 52%. Mais da metade da população apta a se manifestar nas urnas preferiu se abster de fazer valer a vontade. Ou deixou de comparecer, ou anulou o voto, ou votou em branco. O desinteresse já se manifestara no primeiro turno, realizado em 3 de junho, quando 43,5% se negaram a escolher um candidato.

É verdade que se trata de mandato-tampão até 31 de dezembro. Em março, o TSE cassou o governador Marcelo Miranda (MDB) por uso de caixa 2 em 2014. Mauro Carlesse (PHS), presidente da Assembleia Legislativa, assumiu interinamente o governo do estado. Agora eleito, comandará o Executivo até o fim do ano e poderá concorrer à reeleição.

O desalento observado no Tocantins pode ser atribuído, em parte, ao curto período em que Carlesse se manterá no poder. Mas não só. Percentual tão elevado de evadidos da responsabilidade tem explicações adicionais. Uma delas é a cara velha dos concorrentes, todos figuras carimbadas da política. É o caso dos senadores Vicentinho e Kátia Abreu. Há busca geral por algo novo embora não haja clareza do que o novo significa.

É bem provável que se trate de pessoas novas com nova forma de fazer política. Com o terremoto provocado pelo mensalão e o tsunami ocasionado pela Lava-Jato, os políticos caíram em descrédito. Com eles, os partidos. Com ambos, a política. A sucessão de escândalos deixou clara a corrupção que permeia os diferentes escalões dos poderes. As denúncias não se restringiram a palavras e acusações.

Exibiram montanhas de dinheiro escondidas em caixas e malas. Mostraram deputados, senadores, governadores, empresários em camburão, em nada diferentes de traficantes, estupradores ou homicidas. Ex-presidente da República cumpre pena em Curitiba. Deflagrada em março de 2014, a Lava-Jato parece não ter fim. Contabiliza 50 fases e se dissemina por diversas unidades da Federação. É natural que as notícias tenham contaminado o eleitor.

Número significativo de brasileiros diz que não se sente representada e se dispõe a repetir o exemplo do Tocantins. O desencanto também atinge os jovens. Metade dos 3,8 milhões dos brasileiros de 16 e 17 anos, que votariam pela primeira vez em outubro, nem sequer se interessaram em tirar o título. É grave e preocupante. Quem se omite entrega o galinheiro à raposa. O eleitor é responsável pela representação nascida das urnas. Daqui a pouco mais de três meses, terá a oportunidade de marcar posição e construir o futuro do país. A política é a saída. Não há outra.

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.