Jovens dias de Salgueiro; banda, chalé e castelos

Raimundo Carrero
Escritor e jornalista

Publicado em: 25/06/2018 03:00 Atualizado em: 25/06/2018 08:59

Não sou saudosista. Mas gosto de sentir saudade. Até porque me faz bem os versos de Aldemar Paiva: quem tem saudade não está sozinho, tem o carinho da recordação. Sou chegado a recordações, muitas vezes românticas. Mesmo assim não choro, nunca chorei de saudade.  Sinto ternura pelas coisas passadas, por pessoas e lugares. Sobretudo quando me lembro dos meus pais.

Apesar desse aparente rigor, Salgueiro ocupa um lugar especial ou especialíssimo nas minhas lembranças. Não há um só dia em que não me lembre do menino de calças curtas  que fui, tocando requinta na banda do padre, a saudosa Banda Filarmônica Paroquial de Salgueiro, regida pelo grande maestro Moisés da Paixão, na companhia de amigos da vida inteira, a maioria pobres, com os quais me identifiquei desde os primeiros dias.

Tinha apenas 11 anos mas sempre fui muito bem tratado, sobretudo por Cacau, tocando tuba em mi bemol, que me chamava de tio. Eu ainda era conhecido por Bebé, o carinhoso apelido familiar, e ele me chamava tio Bebé. Protegia-me das brincadeiras dos adultos e até evitava que tomasse cerveja, na minha pouca idade.

Um dia, em Serrita, levou-me nos braços para a hospedaria, depois que ganhei uma cerveja num sorteio e bebi alguns goles. Repreendeu-me e pediu-me que não fizesse mais aquilo. Depois foi soldado de Polícia e ajudante de disciplina  num colégio.

Outra lembrança ainda muito viva é a do Chalé Vila Maria, que está fazendo cem anos de construção. Este Chalé Vila Maria  construído pelo coronel Veremundo Soares no tempo do fausto, constituindo-se numa dessas edificações decisivas para a história da arquitetura  não só de Salgueiro, mas do Sertão inteiro. No início do século, um coronel que se prezasse tinha um chalé, mistura de poder e ostentação, mas também de humildade e integração, porque não podia se distanciar muito das demais construções dos amigos e compadres.

Na minha infância exercia o poder de castelo inglês ou de palácio medieval, com seus janelões e portas grandes, cercado de plantas que escureciam ao anoitecer, apesar das lâmpadas e lampiões...

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