Problemas políticos e conjuntura econômica

André Maia Gomes Lages
Economista e mestre pela UFPE com Doutorado no IE/UFRJ. Professor dos cursos de economia da FEAC/UFAL.

Publicado em: 19/06/2018 03:00 Atualizado em: 19/06/2018 08:42

A inflação é nociva para saúde financeira das famílias mais pobres, que não dispõem de boa educação financeira e possuem poucos instrumentos de proteção contra seus efeitos perversos. Os chavões políticos não diminuem as necessidades de sobrevivência das parcelas menos afortunadas da sociedade. O capitalismo, por sua vez, poderia funcionar melhor e ser menos falho na distribuição de renda. Isso certamente reduziria a rejeição desse sistema econômico por parcelas relevantes da sociedade, especialmente no caso brasileiro. Falhas de mercado exacerbam esse problema da distribuição, afastando o capitalismo, do ideal preconizado por economistas neoclássicos do século XIX. Por conseguinte, a participação do estado se faz necessária, mesmo que de forma menos intervencionista e mais regulatória. Uma das intervenções deve ser no controle da inflação e seus impactos socialmente perversos, que faz sérios estragos na moeda nacional, como aconteceu no Brasil no período entre 1985 e 1994.

Recentemente, o Banco Central procurou reduzir a taxa Selic para 6,5% a.a. e reduziu a proporção dos depósitos compulsórios dos bancos comerciais no caso de depósitos à vista foi 40% para 25%, facilitando assim o crédito. Isso também facilitaria os bancos privados passarem a redução da Selic para taxas cobradas ao consumidor.. Essas medidas refletiram a preocupação com um ritmo mais lento da atividade econômica, mas também reduziram a pressão sobre as contas governamentais, apesar do problema ainda ser não resolvido. Entretanto, fatores externos e políticos mudaram um aparente cenário de melhora da conjuntura econômica. A economia americana apresentou sinais de aquecimento, que trouxe um aumento das taxas de juros naquele país. Em contrapartida houve desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar. Foi preciso que o presidente do Banco Central do Brasil enfatizasse que o país dispunha de fartas reservas internacionais e prometesse vender US$ 20 bilhões delas via swaps cambiais. Mas claro nesse movimento de intranquilidade refletidos no aumento do câmbio se aproximando de R$ 4,00 foi relevante também a greve dos caminhoneiros, favorecendo o aumento dos preços dos alimentos por movimentos especulativos e por desabastecimento.

Acredito que não vai ocorrer valorização do real no médio prazo, porque o ambiente de incerteza não irá permitir, estando ele agora amplificado por uma corrida presidencial. As eleições inflam as incertezas, favorecendo perspectivas de instabilidade econômica, como consequência da polarização política que geralmente acontece nesses períodos no país. Tal polarização aumenta as incertezas quanto à política econômica a ser seguida após e posse do novo presidente. Além disso, apesar de ter atingido apenas 2,95% nos últimos dozes meses, as projeções de inflação do IPCA, capturadas pelo boletim Focus do BACEN, se elevaram recentemente e deverão continuar a subir. Pode-se então deduzir que o Banco Central deve desacelerar a redução da taxa Selic, se o cenário não mudar. E existe possibilidades visíveis do câmbio desvalorizar ainda mais no médio prazo.

Então, o cenário dos próximos meses não deve ser de calmaria. A sociedade não pretende dar tranquilidade ao Governo Temer. E esse tem mais dificuldade de criar um ambiente mais propício para a recuperação econômica, até mesmo em termos de política fiscal. Assim, os acontecimentos mencionados e um ambiente de incertezas política e econômica crescentes concorrem para inibir a expansão do PIB nos próximos meses. Nessa conjuntura não se conseguirá avanços mais rápidos na redução da pobreza, principalmente nas áreas urbanas, já que na área rural, outras formas de renda não monetária amenizam esse quadro, embora pareça ser algumas vezes de forma insuficiente. Sem desconsiderar a importância do Bolsa Família.  Diante disso, não se deve contar com uma expansão contundente de investimentos privados, que é um elemento fundamental para geração de emprego formal e renda com vistas a aliviar os efeitos perversos do desemprego involuntário.

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