Editorial Congresso paralisado

Publicado em: 19/06/2018 03:00 Atualizado em: 19/06/2018 08:40

Os chineses costumam dizer que as árvores querem ficar quietas, mas o vento não deixa. Em outras palavras: o tempo passa, a realidade muda e impõe transformações aptas a acompanhar o avançar do calendário. A observação vem a propósito da viagem de Michel Temer ao Paraguai para participar da Reunião do Mercosul. Sem vice-presidente, o substituto legal é o presidente da Câmara e, na ausência dele, o presidente do Senado.

Em razão das regras eleitorais, porém, ambos precisaram deixar o país para não tomar assento no Palácio do Planalto. Caso o fizessem nos seis meses que antecedem o pleito, não poderiam disputar outro cargo senão a Presidência da República. Assim, a ministra Cármen Lúcia, a seguinte na linha sucessória, assumiu a chefia do Executivo por algumas horas. Com o retorno de Temer, todos voltam para casa.

Trata-se de exemplo da impassibilidade das árvores diante do vento que sopra. Mantém-se regra antiga, de época em que a comunicação era lenta, difícil, com risco de extravio. Não é o caso desta altura do século 21. Na era da internet, trocam-se informações em tempo real. Além de mensagens escritas, telefone, videochamadas e videoconferências encontram-se à mão, fáceis e descomplicados como andar pra frente.

A ausência de Rodrigo Maia e Eunício Oliveira chama a atenção, mais uma vez, para a paralisia do Congresso Nacional. Com a taxa de desemprego que beira 14 milhões de pessoas e a de desalento que soma outro tanto, o país não pode se dar ao luxo de adiar soluções indispensáveis para destravar o desenvolvimento nacional. Pautas urgentes ficam esquecidas sai mês, entra mês, sai ano, entra ano. Os interessados cobram avanços, especialistas esclarecem as razões da urgência, a imprensa divulga o problema. Mas a resposta não vem.

Entre os projetos que aguardam na fila, alguns sobressaem. Entre eles, a reforma da Previdência, sem a qual se torna impossível o ajuste fiscal e se inviabilizam os investimentos indispensáveis ao crescimento econômico. A reforma tributária, há muito esperada para simplificar o esquizofrênico sistema de cobrança de impostos. A privatização da Eletrobras — deficitária, sem capacidade de investimento e sujeita a interferências políticas. Não só. Engrossam a fila de espera o cadastro positivo, a reoneração da folha de pagamento, a racionalização da concessão de subsídios.

Há pouca perspectiva de avanço em votações de temas substantivos neste ano. Em junho, com a Copa do Mundo e as festas juninas, dificilmente os parlamentares se debruçarão sobre os grandes temas de interesse nacional. Em julho, o calendário marca recesso parlamentar. Em seguida, começa a campanha eleitoral. Deputadores e senadores concentrarão esforços nas bases em busca de votos. Resultado: adiar-se-á, mais uma vez, o inadiável.

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