Nunca dantes

Nagib Jorge Neto
Jornalista
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Publicado em: 18/06/2018 03:00 Atualizado em: 18/06/2018 08:51

Nada de omitir ou esquecer que nunca ou dantes não houve ou não havia casos de corrupção, escândalos financeiros, envolvimento de políticos e empresários no desvio de recursos públicos. Até porque é uma falácia, uma farsa, da mídia e do atual sistema de informação, que se faz agora porta voz de denúncias e defensor da moralidade e dos anseios da sociedade. Nessa cruzada, a Rede Globo exibe todo dia vídeos com gente que quer um Brasil ideal e repete o mote - país livre da corrupção, da inflação e da crise. Os videotas repetem que estão cansados de políticos, roubalheira, e são cansativos nessa mensagem da emissora que defendeu, cresceu e apoiou a ditadura.    

Naquela época o Congresso, o Ministério Público, o Supremo Tribunal, eram coniventes com o regime militar desde abril de 1964, quando o ministro Álvaro Ribeiro da Costa - que deu posse ao golpista Raniere Mazzilli - quis entregar as chaves da Corte ao Marechal Castelo Branco em protesto contra as medidas do Governo. Castelo tentou amenizar a situação, mas o Supremo terminou sendo uma figura decorativa. O MP também fez parte do enfeite com poucas e raras reações em defesa do Estado de Direito e contra a violência da ditadura.

Evidente que diante da repressão, da censura, as emissoras de televisão, de rádios, jornais e revistas, eram coniventes e cresciam com os ganhos nos casos de corrupção e uso indevido de dinheiro público. As redes de TV - lideradas pela Globo - louvavam 'o milagre brasileiro', e ignoravam as denúncias de corrupção, torturas, mortes, tanto que um âncora da emissora globo usou o tom da parceria - 'nunca fomos tão felizes".

Na fase atual, quase toda a mídia proclama que nunca ou dantes houve tanta corrupção, crise econômica e política como agora. As expressões - roubalheira, maior da história, do mundo, desemprego - tornaram-se frequentes no noticiário da mídia que não faz referência aos efeitos da seca, inundações, crise externa e o uso da tecnologia para reduzir pessoal, "enxugar". maximizar os lucros e aumentar o desemprego - que avança também noutros países, inclusive na América Latina, ou Europa e Estados Unidos, citados como exemplo pela mídia.   

Daí, haja heróis de um novo tempo, de liberdade de expressão, com destaque para uns poucos políticos e a maioria do judiciário que age como se o país vivesse uma "democracia hibrida", com um Estado de Exceção, ousado e arbitrário, mitigado por nuances de Estado de Direito. No passado, pós 1964, o Poder Judiciário nada fez para punir os crimes apurados e denunciados por José Carlos de Assis, um jovem repórter, hoje escritor e professor universitário. As denúncias e conteúdo do seu livro A Chave do Tesouro mostram tudo que a mídia escondeu - por conveniência, medo de punição ou censura - envolvendo empresas, políticos e empresários que foram omissos ou beneficiários da rapinagem, dos escândalos financeiros e políticos do regime ditatorial.

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