Henrique Cruz - meu irmão

Francisco Barreto
Médico e membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 14/06/2018 03:00 Atualizado em: 14/06/2018 06:25

É importante que a gente diga, propague, fale... Todos devem saber. Sobretudo os que não viveram o bem, o verdadeiro, a força de uma relação intensa, significativa, os laços sempre muito fortes com todos. Henrique era uma dessas pessoas. Nenhuma relação frágil. Todas, absolutamente todas as suas relações, eram fortes com todos. Ele era cuidado, ele era amor. Queridíssimo em todas elas. Em contrapartida ele não era de querer pouco. Dava- se inteiro. Honrado, viveu intensamente e verdadeiramente. Profissionalmente era fonte de sossego e paz. Pessoalmente, tudo resolvido. Vida quites, com todos.

Um traço, não comumente discutido no cotidiano das relações e extremamente saliente no ser que ele era, estava sempre presente e coloria todos os detalhes: a honradez. Atributo pervasivo em qualquer ponto, em qualquer traço desenhado na vida dele. Nunca fez nenhuma apologia disto. Registrava. Pesava. Decepcionava-se ou encantava-se. Era um lugar sagrado. Não falava, não recriminava. Respeitava nossos erros, nos tolerava, nos compreendia. Nada mudava. Vivia o concreto, o verdadeiro. Respeitava isto e se acomodava ao que lhe cabia. Nos seus últimos momentos de vida um pouco impaciente com o curso dos acontecimentos conversamos: “nunca pensei que  morrer fosse tão difícil. Ele nunca imaginou a força que o ligava à vida.” Uma força maior te prende a vida. E tu a desconheces. Ignoras. De há muito, sabes, já chegou tua hora e no entanto permanece a lida”. Ou em outro momento conversando com uma sobrinha, e esta lhe dizia da importância da fé nestes momentos e ele respondeu: “não me falta fé. Isto eu tenho. Me falta chão. Eu já estou do outro lado”. Pode se despedir, confortar todos e finalmente descansar com dignidade sem nenhum sofrimento, em paz. Desencantou.

Doutor Henrique Cruz não era simplesmente um bom cardiologista, um médico competente, um profissional invejável de sucesso e com resultados exitosos para os que tiveram a sorte de tê-lo como médico. Sua presença era muito marcante para todo mundo.

Um dom, um talento natural vinha da sua carta natal. Ele era um capricorniano. No zodíaco, desde que o mundo é mundo os melhores médicos são os nativos de capricórnio. Nada, absolutamente nada, faltava ao seu doente, independentemente de classe social, gênero, escolha sexual, etnicidade, etcetera. Na vida das pessoas sobretudo na vida dos seus doentes ele era uma pausa. Até o nosso sofrimento como doente parava, a certeza que tudo ia mudar. Ele ia cuidar, fazer, dirigir. Não importa a agitação com que ele chegasse. Ele era uma “pause”. Do mesmo jeito de uma composição musical. Os sons e as pausas criam os ritmos a presença dele era uma pausa e a composição musical da nossa doença poderia ser escrita. Agora a falta dele em nossas vidas torna-se também uma pausa. Uma pausa diferente pois vamos compor sem ele e sem poder imaginar como seria, caso ele permanecesse conosco. Irreparável a sua falta, mas, neste momento, eu penso nele na outra vida, procurando o que fazer para continuar nos protegendo vivendo a paz e o sossego merecidos.

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