Precisamos de um pouco de Copa

Leonardo Accioly
Vice-presidente da OAB-PE

Publicado em: 14/06/2018 03:00 Atualizado em: 14/06/2018 06:26

Meu pai me narra sempre, que em 1970, época em que muitos “falavam de lado e olhavam para o chão”, sentia muita vergonha de torcer para o Brasil na Copa do México. Mesmo amante do futebol, impossível não associar o odioso ufanismo alimentado pelo regime assassino de 64, com canarinha de Pelé, Gerson, Jairzinho e Tostão.

Ainda assim, papai, como muitos militantes de esquerda à época, quase que secretamente, se reunia com os amigos e gritavam a cada gol do Brasil. O sentimento revolucionário cedia um pouco de tempo ao amor pelo futebol e pela seleção.

Confesso que atualmente estou um pouco acabrunhado de usar a amarelinha, com receio de uma indesejável associação com ideias que não acredito. Também a baixa estima nacional fez com que as pessoas associem o amor pelo futebol e pela seleção a um sentimento de conformismo com os problemas da nação.

Apesar disso tudo, admito que sinto muitas saudades das ruas enfeitadas, das bandeirolas nos carros e nas casas, das tabelinhas nas carteiras, dos bolões e até do sentimento de tristeza com as derrotas, como as de 82 e 86 que me marcaram profundamente. Acho que ali comecei a gostar de verdade de futebol. O sentimento de solidariedade na derrota, alimenta o bem querer pelo próximo e a vontade de dar a volta por cima.

Será que não precisamos, tal qual nossos pais em 70, de uma pausa? Pausa para esquecer um pouco, nem que seja um pouco, dos problemas cuja a solução, por mais complexas que sejam, talvez tenham seu início justamente na necessidade de mais amor, compreensão e tolerância. Abraçar seu vizinho na mesa de bar que você nem conhece após um gol da seleção. Dar as mãos no pênalti cobrado pelo maior perna de pau do time, mas que estufa a rede transformando o inapto em herói. Pausa para descansar um pouco de tanta iniquidade, tanto pessimismo, tanta imobilidade. Empunhar um pouco o estandarte do sanatório geral que é o Brasil e buscar, em nossa mais íntima natureza, o lirismo a anarquia e a criatividade perdidas.

Na improvável vitória, buscar  o sentimento de que podemos virar o jogo e confiar mais no próximo. Talvez esta seja oportunidade para que, sem abrir mão de nossas convicções, todos baixemos as armas e recomecemos a reconstruir o nosso país. Quero muito acreditar nisso.

Digo então a todos que farei uma pausa, e por 30 dias o futebol será o principal tema dos meus dias, e por isso amigos, por favor, não me julguem mal. Avante Brasil !!

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