Alemanha e Pernambuco

George F. Cabral de Souza
Doutor em História, presidente do IAHGP e professor da UFPE

Publicado em: 09/06/2018 03:00 Atualizado em: 10/06/2018 21:36

Há 150 anos começou a funcionar no Recife o Consulado Geral da Alemanha. Não obstante, a presença germânica em Pernambuco remonta a datas muito mais recuadas. Em 1548, chegou a Pernambuco Hans Staden. Natural de Homberg (na região de Hesse), veio numa esquadra portuguesa e tomou parte na defesa de Igarassu. Suas aventuras no Brasil foram publicadas em 1557, alcançando grande popularidade na Europa inteira graças às traduções feitas para diferentes idiomas. Também em meados do século 16 registra-se a presença de Cristóvão Lins, que participou diretamente do processo de conquista territorial na capitania donatária e fundou pelo menos sete engenhos. De sua união com Adriana de Holanda iniciou-se a família Lins entre nós.

Em 1630 a capitania de Duarte Coelho foi invadida pela Companhia Holandesa das Índias Ocidentais. Dos 24 anos de domínio holandês, o período mais marcante e mais relembrado é o do governo do conde alemão, Johann Moritz von Nassau-Siegen, o popular Maurício de Nassau. Chegou ao Recife em 1637 e aqui permaneceu até 1644. Promoveu a urbanização, transformando o acanhado porto de Olinda num dos mais importantes núcleos citadinos do Atlântico Sul. Afeito às artes e às ciências, trouxe um pequeno, mas operativo grupo de pintores e cientistas que legou à história um dos mais singulares conjuntos de obras e estudos sobre o Novo Mundo. Entre eles destacaram-se Georg Marcgrave e Zacharias Wagener, ambos naturais de Dresden. Marcgrave foi o responsável pelo primeiro observatório astronômico nas Américas. Suas observações científicas da natureza brasileira permitiram que o holandês Guilherme Piso elaborasse a Historia Naturalis Brasilieae. Wagener atuou como militar, acompanhando Nassau em várias campanhas, mas conseguiu paralelamente produzir importantes ilustrações da natureza brasileira que compuseram sua obra Thier Buch (o Livro dos Animais).

Avançando para o século 19 encontraremos a colônia Sta. Amélia, instalada nas proximidades do Recife entre 1829 e 1831. Porém, a empreitada não resistiu aos ataques do Quilombo do Catucá e a colônia acabou desaparecendo. Em 1839, por iniciativa de Francisco do Rego Barros (depois Conde da Boa Vista), 200 operários alemães foram recrutados e trazidos para tocar a modernização do Recife, tendo trabalhado inclusive na construção do Teatro de Santa Isabel. Os pedreiros, carpinteiros e ferreiros alemães introduziram em Pernambuco novas técnicas construtivas e novos padrões estéticos, confrontando a “rotina ibérica”, mas ao mesmo tempo conciliando com ela como afirmou Gilberto Freyre.

Ainda no século 19, o pensamento alemão exerceu forte influência sobre a chamada Escola do Recife, tendo sido o sergipano Tobias Barreto um dos seus mais aguerridos divulgadores. Com a chegada do século 20, também chega ao Recife, em 1930, o Zepellin. A torre de atracação no Jiquiá – a única ainda existente no mundo – receberia a “baleia voadora” mais 60 vezes até 1937.

Na atualidade, o Consulado Geral da Alemanha no Recife se esmera em estreitar os laços culturais, econômicos e acadêmicos entre Pernambuco, o Nordeste e Alemanha. Outras instituições, com destaque para o Centro Cultural Brasil-Alemanha também operam com este objetivo. Fazemos votos para que este intercâmbio, quase cinco vezes secular, prospere sempre, pois seus frutos são salutares para ambos os lados.

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