Semana difícil nos mercados financeiros

Alexandre Rands Barros
Economista, PhD pela Universidade de Illinois e presidente do Diario de Pernambuco

Publicado em: 09/06/2018 03:00 Atualizado em: 10/06/2018 21:36

A semana não foi fácil para os mercados financeiros. Subida do preço do dólar e queda das cotações das ações marcaram o cenário nacional. O dólar caiu 1,61% na semana, fechando a R$ 3,7065, mas chegou a ser cotado a R$ 3,92 na quinta feira. Intervenção do Banco Central anunciando por R$ 24 bilhões em SWAPS cambiais e programa de compra de títulos que irá durar até final de junho.  O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa), por sua vez, fechou a semana com perda de 5,56%. Várias foram as possíveis explicações para esses movimentos, mas todas são ainda hipóteses. Talvez uma combinação delas explique o que ocorreu.

Situação de tensão internacional com perspectivas de subida de juros nos EUA gerou a expectativa de que haveria crises cambiais em alguns países emergentes. Brasil entrou na lista não só de potenciais candidatos, mas chegou até a ser apontado como a próxima vítima que poderia sofrer uma crise cambial, apesar do alto volume de reservas do país (US$ 380,0 bilhões). Isso fez com que investidores estrangeiros abandonassem posições em ações de empresas brasileiras. Isso pode ter causado tanto a depreciação do Real como a queda do Ibovespa. A predominância de movimentos negativos nos preços das ações chamadas blue chips também corrobora com essa hipótese.

Crescimento das perspectivas de vitória de Bolsonaro ou Ciro Gomes por causa da deterioração do suporte eleitoral do centro foi outro determinante das variações dos preços das ações e do dólar. Pesquisas com pessoas do mercado financeiro mostraram que as expectativas de vitória de Bolsonaro subiram bastante, apesar dos resultados de pesquisas que se tornaram públicos não confirmarem esse movimento. Elas mostraram ele no mesmo patamar que antes da greve dos caminhoneiros. Ao longo da semana, cada vez mais analistas puseram Ciro como o mais provável candidato da esquerda, além dele ter subido marginalmente a sua preferência por voto nas pesquisas tornadas públicas. Como ambos os candidatos são considerados de alta probabilidade de conduzir políticas econômicas contrárias ao bom funcionamento dos mercados, seja por não se preocuparem adequadamente com o déficit público, diminuir a perspectiva de privatizações, renegociar a dívida pública ou mesmo intervirem em mercados específicos, essa ascensão das perspectivas eleitorais de ambos gera mais incertezas nos mercados e por consequência os movimentos do dólar e Ibovespa que se verificaram.

Aumentaram as perspectivas de elevação da inflação medida pelo IPCA acima do previsto e por tal uma possível subida da taxa de juros nas próximas reuniões do Copom. Cogitou-se inclusive que poderia haver uma reunião extraordinária do Copom com esse objetivo, possibilidade que foi refutada por Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central. Essa perspectiva de aumento da taxa de juros explicaria a queda nos preços das ações, mas para que houvesse a depreciação cambial verificada seria necessária também a deterioração das expectativas futuras em relação à economia brasileira. Mas pode se dizer que essas perspectivas do IPCA podem ter posto mais lenha na fogueira, apesar de sozinhas não poderem explicar todo o movimento de preços verificados ao longo da semana.

Cresceu a percepção de que a implementação do acordo com os caminhoneiros pode ser inviável por causa dos atritos criados com vários outros segmentos sociais. Isso poderia trazer novas paralisações e complicar a estabilidade econômica do país. Esse fenômeno elevaria as incertezas fiscais e mesmo políticas do país, o que levaria a aumento de riscos em posições no mercado brasileiro. Por tal, levara à saída de investimentos dos mercados financeiros brasileiros, com consequente queda do Ibovespa e elevação do preço do dólar. Por fim, novas denúncias contra Temer devem enfraquecer ainda mais o governo e comprometem ainda mais as perspectivas de controle fiscal. Houve também quebra de sigilo fiscal de ministros muito ligados ao presidente, o que sinaliza enfraquecimento político e maior risco de instabilidade política futura do governo atual. As consequências para os mercados de câmbio e de ações terminam similares ao que ocorreria a partir da causa potencial imediatamente acima. O aumento da percepção de risco é o mecanismo de transmissão do fenômeno para as consequências nos mercados.

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