Siso, apêndice e posições retrógradas
João Paulo Gomes
Jornalista, especialista em ciência política e professor de neuromarketing.
Publicado em: 08/06/2018 03:00 Atualizado em: 08/06/2018 08:38
Fundamental para triturar nozes, carne crua e raízes no tempo das cavernas, o dente siso, terceiro molar ou até “queiro”, como é conhecido no Nordeste, é o vilão na boca das pessoas. Isso porque com a evolução dos alimentos ele perdeu a função. É um objeto incômodo, doloroso e indesejado em nosso corpo. Única solução? Extração.
Já o apêndice até hoje preserva alguma função. Serve de depósito para bactérias intestinais que auxiliam na digestão e evitam infecções, além de concentrar linfócitos, células de defesa que contribuem no sistema imunológico. A questão é que o corpo, há bastante tempo, já aprendeu a viver sem ele. É dispensável. No entanto, a permanência dele traz o alerta da apendicite, inflamação grave que atinge 1 em cada 13 pessoas podendo levar, inclusive, caso não diagnosticada corretamente, à morte.
Se algumas partes do corpo, há milhares de anos, encontravam sentido em existir, o mesmo ocorre com nossas mentes. Diferente do siso ou do apêndice, nossas áreas de ativação racional e emocional evoluíram muito, mas se comportam como depositários e processadores de informações externas. São reflexo e formador do meio ao mesmo tempo.
Nossas opiniões e posições políticas e sociais mudam de tempos em tempos e de forma cíclica é possível fazer leituras sobre evolução e acomodação.
Desde os anos 80 crescia uma linha de debate sobre liberdades individuais, respeito às diferenças e até a própria riqueza da diversidade.
Iniciamos inúmeros avanços, como a inclusão das mulheres, dos negros, dos LGBTS na pauta política. Liberdade religiosa, política sobre drogas, aborto - tudo entra na pauta.
Um fenômeno diferente cresce nos últimos anos no mundo e vemos esse recorte especial no Brasil: retorno do debate sobre o papel do outro.
A onda conservadora que usa de artifício valores como moral, família e religião cria um mundo plástico, fácil de ser consumido pelas massas e reacionários dispostos a reduzir a representatividade do Estado e da sociedade de forma coletiva.
Os perigos desse fenômeno são inúmeros, desde a eleição de um presidente que comande um processo de retorno às cavernas, até o próprio convívio social, pautado pelo modo puro de viver, excluindo opiniões, formas e toda as diferenças que nos ajudam a evoluir.
É realmente assustador o retorno de debates como se alguém deve se casar ou não com outra pessoa (seja de que gênero ou orientação sexual for). E são temas como esse que ocupam nossas câmaras e assembleias e suplantam planos como a educação que queremos ou qual o projeto de sociedade que desejamos.
Darwin ficaria intrigado. Os sisos e os apêndices podem ser retirados até que desapareçam do nosso corpo com a evolução natural. Já as opiniões retrógradas, que machucam e matam muito mais gente pelo mundo, essas são bem mais difíceis de se combater.
Já o apêndice até hoje preserva alguma função. Serve de depósito para bactérias intestinais que auxiliam na digestão e evitam infecções, além de concentrar linfócitos, células de defesa que contribuem no sistema imunológico. A questão é que o corpo, há bastante tempo, já aprendeu a viver sem ele. É dispensável. No entanto, a permanência dele traz o alerta da apendicite, inflamação grave que atinge 1 em cada 13 pessoas podendo levar, inclusive, caso não diagnosticada corretamente, à morte.
Se algumas partes do corpo, há milhares de anos, encontravam sentido em existir, o mesmo ocorre com nossas mentes. Diferente do siso ou do apêndice, nossas áreas de ativação racional e emocional evoluíram muito, mas se comportam como depositários e processadores de informações externas. São reflexo e formador do meio ao mesmo tempo.
Nossas opiniões e posições políticas e sociais mudam de tempos em tempos e de forma cíclica é possível fazer leituras sobre evolução e acomodação.
Desde os anos 80 crescia uma linha de debate sobre liberdades individuais, respeito às diferenças e até a própria riqueza da diversidade.
Iniciamos inúmeros avanços, como a inclusão das mulheres, dos negros, dos LGBTS na pauta política. Liberdade religiosa, política sobre drogas, aborto - tudo entra na pauta.
Um fenômeno diferente cresce nos últimos anos no mundo e vemos esse recorte especial no Brasil: retorno do debate sobre o papel do outro.
A onda conservadora que usa de artifício valores como moral, família e religião cria um mundo plástico, fácil de ser consumido pelas massas e reacionários dispostos a reduzir a representatividade do Estado e da sociedade de forma coletiva.
Os perigos desse fenômeno são inúmeros, desde a eleição de um presidente que comande um processo de retorno às cavernas, até o próprio convívio social, pautado pelo modo puro de viver, excluindo opiniões, formas e toda as diferenças que nos ajudam a evoluir.
É realmente assustador o retorno de debates como se alguém deve se casar ou não com outra pessoa (seja de que gênero ou orientação sexual for). E são temas como esse que ocupam nossas câmaras e assembleias e suplantam planos como a educação que queremos ou qual o projeto de sociedade que desejamos.
Darwin ficaria intrigado. Os sisos e os apêndices podem ser retirados até que desapareçam do nosso corpo com a evolução natural. Já as opiniões retrógradas, que machucam e matam muito mais gente pelo mundo, essas são bem mais difíceis de se combater.