Editorial Amarga posição

Publicado em: 08/06/2018 03:00 Atualizado em: 08/06/2018 08:36

O Brasil amarga mais uma posição constrangedora em rankings mundiais que avaliam a qualidade de vida da população. Recente levantamento mostra que o país ocupa o 96º lugar, entre 195 nações, na oferta e qualidade dos serviços de saúde prestados à comunidade. Enquanto houve uma melhora mundial em área tão sensível, o progresso do setor no Brasil estacionou, de acordo com dados do estudo Carga Global de Doenças — também denominado GBD — realizado pelo Instituto de Métricas e Avaliações em Saúde da Universidade de Washington, com a colaboração de mais de 3 mil pesquisadores, inclusive brasileiros.

A precariedade dos serviços médicos e hospitalares prestados aos cidadãos pode ser constatada, diariamente, nos locais de atendimento espalhados pelas cidades do país, onde a falta de leitos, medicamentos e profissionais capacitados são a regra, não a exceção. A crua realidade mostrada pelo estudo choca, pois o Brasil é o terceiro pior colocado na América do Sul, à frente apenas de Paraguai e Bolívia. Ao ser comparado às demais nações sul-americanas, cai na classificação, praticamente retrocedendo para a posição em que figurava em 1990, quando ocupava o 98º lugar.

No plano nacional, o Distrito Federal se destaca, aparecendo no topo das 27 unidades da Federação, seguido de São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. Minas Gerais está em sétimo lugar e o Maranhão amarga a última posição. Em 16 anos, a qualidade e o acesso à saúde no DF aumentaram 20,2%, enquanto Sergipe (20ª posição) foi o estado com a melhora mais lenta no período, de apenas 0,85%. O levantamento reflete claramente as desigualdades sociais no país, com o DF e estados do Sudeste e do Sul liderando o ranking, enquanto os do Norte e Nordeste aparecem entre os piores classificados.

Especialistas concordam que há, por parte das autoridades, esforços para a melhoria do quadro. No entanto, ressaltam que houve mudança nos desafios brasileiros em relação à saúde. Lembram que, desde o primeiro GBD, os principais problemas eram as doenças infecciosas e a mortalidade materno-infantil. Com a ampliação da cobertura vacinal e cuidados pré-natais e neonatais de melhor qualidade, registrou-se queda considerável de mortalidade por esses motivos. Agora, informações do estudo revelam que doenças cardiovasculares e crônicas (inclusive câncer do pulmão), além de Alzheimer, são as que mais matam no país.

Em termos globais, houve avanços no índice de Qualidade e Acesso a Serviços de Saúde. Na avaliação dos autores da pesquisa, os ganhos mais recentes devem ser reflexo dos efeitos dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, pacto firmado por membros da Organização das Nações Unidas (ONU) para a melhoria das condições de vida da população mundial, inclusive com a promoção da queda da mortalidade materno-infantil e a intensificação do combate ao HIV. Iniciativas internacionais que devem ser perseguidas com afinco pelos governantes globais.

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