Editorial Violência sem fim

Publicado em: 06/06/2018 03:00 Atualizado em: 06/06/2018 08:44

A onda de violência que tomou conta de Minas Gerais nos últimos dois dias, com mais de 30 ônibus incendiados, ataques a prédios públicos e a agências bancárias, em mais de 20 cidades de diversas regiões do estado, mostra claramente a falência do sistema de segurança pública no país, o que vem sendo denunciado, sistematicamente, por várias instâncias da sociedade. Basta a deflagração de mais uma onda de crimes para que os agentes públicos renovem as promessas de que, finalmente, o Brasil terá uma efetiva política de segurança em nível nacional. Baixada a poeira, as propostas e projetos caem no esquecimento e se perdem nos gabinetes palacianos.

A ação criminosa recente surpreendeu as autoridades por sua audácia e abrangência. Certo é que as depredações foram orquestradas de dentro de presídios comandados por facção criminosa com ramificações em São Paulo e no Nordeste. A evidência maior da atuação interestadual da organização é um bilhete deixado pelos depredadores com o motorista de um dos coletivos atingidos. Nele, justificam os ataques como represália à repressão sofrida pelos detentos de penitenciárias do país, especialmente na Penitencária de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte, e no presídio do município mineiro de Itajubá, próximo à divisa de Minas com São Paulo — a maioria dos ataques aconteceu em cidades próximas à divisa entre os dois estados.

O clima de insegurança se alastrou rapidamente nos municípios atacados e chegou a causar pânico entre a população. As polícias Militar e Civil tiveram de escoltar ônibus, em alguns deles para proteger cidadãos apavorados. Policiais chegaram a prender dezenas de pessoas acusadas de envolvimento nos ataques, mas não foi suficientemente rápida e organizada para impedir a continuidade das depredações que começaram no domingo à tarde. Como na greve dos caminhoneiros, os criminosos usaram os aplicativos das redes sociais para espalhar ameaças que, supostamente, partiam de presos ordenando ofensivas e ataques generalizados.

É de conhecimento geral que as facções criminosas agem de dentro dos presídios em todo o país, inclusive promovendo carnificinas contra organizações rivais, como as ocorridas no Rio Grande do Norte, Rondônia e Amazonas, para citar as mais recentes, e que ceifou a vida de dezenas de presos. Nos momentos de crise, as autoridades se mobilizam em todos os níveis e apresentam soluções as mais criativas, mas que não são levadas adiante. Enquanto isso, a sociedade continua refém da violência que, a cada dia, se torna mais frequente, sem perspectiva de que problema de tamanha grandeza receba a atenção necessária e seja combatido por uma verdadeira política nacional de segurança pública.

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