Editorial O ontem e o hoje no Diario nos Bairros

Publicado em: 05/06/2018 09:00 Atualizado em:

No final do século 19, a porção rica do Recife veraneava na Madalena. Em 16 de novembro de 1884, a área sediou comício do abolicionista Joaquim Nabuco, candidato a deputado geral (o equivalente hoje a deputado federal). Se alguém um dia quiser listar as dez campanhas políticas mais apaixonantes da história de Pernambuco, não pode deixar de incluir esta de Nabuco. “Falo, hoje, no bairro da riqueza do Recife”, disse Nabuco, no vigor radical do seu abolicionismo, “como domingo passado falei no bairro da miséria (que era o de S. José).  Seja-me permitido dizer que essa riqueza não parece digna de entusiasmo ou admiração a quem contemplou a riqueza dos povos livres, a quem descobriu o contraste das duas e sabe que este simulacro de opulência com que nos queremos deslumbrar não exprime senão a miséria e o aviltamento da nação brasileira”.

A comparação de Nabuco nos mostra que os contrastes que hoje vemos no Recife não são algo recente, e sim de profundas raízes históricas. Mostra também que, ao lado de constantes que se mantêm, em paralelo ocorrem as transformações. Como retrata hoje a terceira edição do Diario nos Bairros, projeto do Diario de Pernambuco que investe no jornalismo hiperlocal. Nas páginas desta edição o leitor encontrará uma diversidade de matérias sobre a Madalena e comunidades vizinhas, como a do bairro da Torre e Caxangá - a realidade de hoje em cada um desses lugares. Na primeira edição do Diario nos Bairros enfocamos bairros da Zona Norte; na segunda, da Zona Sul (Boa Viagem), e, agora, chegamos à Zona Oeste.

Madalena, Torre e Caxangá não são mais, hoje, o que eram no século 19; assim como também as eleições não são mais as mesmas (Nabuco venceu aquela de 1884; mas a Câmara na época tinha o poder de reconhecer ou não a vitória de cada candidato, e não reconheceu a dele). As transformações urbanas, sociais e econômicas que ocorreram no Recife modificaram seus bairros. Madalena, Torre e Caxangá permanecem, no entanto, como áreas pujantes, movimentadas, comunidades clássicas do que é viver e crescer no Recife. Têm população majoritariamente jovem, segundo atesta o IBGE, com o dobro de jovens, em comparação com o total de idosos. Uma população que aponta mais para o futuro que para o passado.

Esta terceira edição do Diario nos Bairros faz uma espécie de retrato desse momento, congelando-o para conhecimento não só dos seus habitantes que por acaso não o conheçam, mas para todos os leitores do jornal, nas suas versões impressa e online. Dessa forma, cumpre aquilo a que se propõe nosso projeto: mostrar a comunidade para si própria - seus dramas, suas aspirações, seus sonhos, seus empreendimentos, seu passado e seu futuro - e, ao mesmo tempo, mostrá-la para seus contemporâneos, onde quer que estejam. A aldeia falando de e para a aldeia - que é, como diz a citação famosa, a melhor forma de ser universal.

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