Editorial O caos não interessa ao país

Publicado em: 30/05/2018 03:00 Atualizado em: 30/05/2018 10:37

Há quem aposte no quanto pior melhor. Por má-fé, sonho ou desconexão com a realidade, investe, por palavras ou obras, no cenário do caos. Considera desejável o cenário que afasta o país cada vez mais dos trilhos do desenvolvimento. Postos sem combustíveis, mercados sem produtos, farmácias sem remédios, escolas sem estudantes, hospitais sem insumos, população sem transporte formam quadro que contraria os desejos da nação.

O conjunto que se descortina com a greve dos caminheiros longe está de corresponder aos anseios dos cidadãos. Ele desvirtua a pauta nacional, cujo foco não pode ser outro senão a criação de postos de trabalho. Nada menos de 28 milhões de brasileiros se encontram numa destas categorias: ou amargam o desemprego, ou se submetem à subocupação. Num caso e noutro, estão privados das conquistas da civilização.

A continuidade do movimento paredista tem o dom de engordar as estatísticas dos desamparados. É hora de dar vez ao bom senso. O governo atendeu às reivindicações dos grevistas. Foi decisão difícil, que exigirá sacrifício de toda a sociedade. Aos contribuintes caberá pagar a conta, já salgada com a extorsiva carga tributária. Mas, esgotadas as possibilidades de manobra, foi a alternativa. Ganhou a classe dos caminhoneiros, ganharam os empresários do setor.

Trata-se do preço do retorno à normalidade. A ninguém interessa outra Venezuela, decorrente do empobrecimento gradativo, da naturalização das perdas e do retrocesso progressivo das instituições. O momento é grave. Pede a participação de todos os segmentos políticos, econômicos e sociais. Não é hora de cobrar preços abusivos. Nem de estocar alimentos. Nem de espalhar terrorismo pelas mídias sociais.

Não é hora de o Congresso manter-se teimosamente omisso, surdo às urgências por que clama o país. Boa parcela da crise de hoje se deve à indiferença de ontem. Até as pedras reconhecem que a reforma da Previdência era medida inadiável para sustentar a tímida recuperação da economia nacional. Foi um tal de vai e vem que o projeto acabou adiado para, talvez, 2019.

Outra iniciativa, a desoneração da folha de pagamentos, parecia morta em razão do desinteresse de levá-la adiante. Foi ressuscitada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, mas com um jabuti que descaracteriza a proposta inicial. Agora, a reforma tributária bate à porta. O momento é oportuno. Com a paralisação dos caminheiros, ficou patente a disfunção da cobrança de impostos no país. Espera-se que deputados e senadores caiam na real e se conscientizem de que não é hora de procrastinação. A hora é agora.

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