Editorial Medida necessária

Publicado em: 26/05/2018 03:00 Atualizado em: 28/05/2018 10:20

Paralisação de caminhoneiros não é fato novo no Brasil. Em país continental movido a rodas como o Brasil, a categoria sabe que tem força e poder de barganha. Em 1999, Fernando Henrique Cardoso enfrentou quatro dias de paralisação e o bloqueio de rodovias com o consequente desabastecimento em diferentes setores. O governo cedeu às reivindicações — suspensão dos reajustes do diesel e de pedágios.

Seis anos depois, Dilma Rousseff teve de confrontar movimento paredista semelhante. Os líderes defendiam o impeachment da presidente. A resposta foi dura — elevação do valor das multas dos profissionais que obstruíam o direito de ir e vir de veículos e pessoas. Na segunda, começou novo confronto. De forma difusa, sem liderança clara, motoristas cruzaram os braços. O Planalto parece ter sido apanhado de surpresa.

Como se não contasse com serviço de inteligência, demorou a tomar medidas eficazes. De um lado, desqualificou a potência avassaladora da paralisação. De outro, ignorou a forte suspeita de que na retaguarda da greve havia transportadoras de cargas e outros setores empresariais do segmento. A reivindicação de baixa de impostos figura em pauta de patrão, não de empregado. Locaute, vale lembrar, é ilegal.

Na quinta — diante de uma população assustada com a falta de gasolina nos postos e o risco de desabastecimento de produtos e serviços essenciais — o presidente e equipe sentaram-se à mesa e costuraram acordo de suspender a paralisação por 15 dias. O acerto veio depois de a Petrobras manter o corte de 10% no preço do diesel e suspender por 30 dias os aumentos do preço do óleo, e de o Congresso se propor a reduzir os impostos sobre derivados de petróleo.

Nem todos os representantes do setor aceitaram a negociação. Mas esperava-se que o movimento se desmobilizasse. Não foi o que aconteceu. Contrariando as expectativas, a sexta-feira amanheceu parada, com bloqueios de estradas e abusos que prejudicam a população. Nada mais legítimo do que greve de trabalhador, mas ultrapassar os limites civilizados é inaceitável. Daí ser acertada a iniciativa do governo de acionar as forças federais para liberar as estradas.

Trata-se de reação correta à chantagem que o Planalto vem sofrendo sem dar resposta à altura. Ceder, sem antes receber as garantias do negociado, é ingenuidade, fruto, talvez, da pressa com que os acertos foram conduzidos. Os recursos legais previstos devem ser acionados para liberar as vias de circulação, garantir o direito de ir e vir e assegurar a normalidade da vida do cidadão.

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