As famas ocultas

José Luiz Delgado
Professor de Direito da UFPE

Publicado em: 24/05/2018 03:00 Atualizado em: 24/05/2018 09:16

As famas são explícitas quase por definição, são públicas, são consabidas, são conhecidas por toda gente. Se não, não seriam “fama” – seriam informações que ficariam contidas, restritas ao conhecimento de alguns poucos. Fama parece, assim, ser alguma coisa sempre ostensiva.

Mas há também o que se poderia chamar de “famas ocultas”. São aquelas que correm de boca em boca, mas não são publicadas, não constam dos registros sociais, das condecorações e das premiações do mundo, das glórias terrenas. Até parecem contraditórias as duas famas, em vários casos, a explícita e a oculta... A propósito de pessoas consagradas, recebedoras de mil homenagens oficiais, que vivem em todas as mídias (fama explícita), o que consta, porém, a boca miúda (fama oculta), é outra coisa.

Deprimente comentário ouvi, há pouco, a respeito de ilustre personalidade: “é falsa toda”. Essa era também a minha convicção íntima, minha impressão pessoal, mas me admirei de que fosse, pelo jeito, convicção comum. Então todo mundo pensa essa mesma coisa? Esta é que é a fama real, embora “oculta”, dessa personalidade? Não a fama aparente, a que trombeteia nas publicidades do mundo...

A respeito de outra também ilustre personalidade, alguém me confidenciou que não gostaria que algum assunto seu viesse a depender dela. Porque não merecia ela a menor confiança. Não merecia? Mas é bem outra coisa o que aparece nos noticiários das exterioridades do mundo... A fama explícita era bem outra. Mas a fama real, a fama oculta, é essa, de alguém sem nenhum crédito? Cuja palavra não vale, cujo pensamento muda ao sabor dos interesses, cuja coerência simplesmente não existe.

Fulano é elogiado e reverenciado? De público, sim. Para efeito exterior, sim. Mas, a boca pequena, o que se diz é que ele é um grandessíssimo medíocre, figura de quinta categoria, apenas personagem que soube subir na vida, um grande cavador e aproveitador. Rematado mau caráter, que joga de acordo não com convicções, que não tem, mas com as circunstâncias e as conveniências, em que é mestre. Superlativo vaidoso, cheio de si (completam ironicamente: cheio do nada...), sem qualquer valor real. Isso é o que todos comentam entre si, todos cochicham, mas não o que proclamam aos 4 ventos do mundo. São coisas diversas a hipocrisia que sai nas manchetes, que se diz nas homenagens públicas, que se anuncia aos microfones, e aquilo que, de fato, as pessoas pensam, e sabem, a respeito de certas personalidades vistosas.

E isso vale para o bem e para o mal. Há também pessoas que todo mundo respeita e admira, mas que não aparecem na grande mídia, não são incensadas pelos grandes do mundo. Todos sabem do alto conceito em que certas personalidades são tidas. Mas, vá-se ver, não são essas as que (muitas vezes) o mundo reverencia...

Que história verdadeira se poderá escrever amanhã, com base  na fama publicada? Sobretudo quando já estiverem mortos os que conheciam de perto essas personalidades e já não mais poderão dar o depoimento sincero, e devastador, que davam a boca pequena?

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