Editorial Lição para repetentes

Publicado em: 24/05/2018 03:00 Atualizado em: 24/05/2018 09:25

Os manuais de pedagogia ensinam que há dois caminhos que conduzem à aprendizagem. Um é o amor. O outro, a dor. Eles apresentam razão simples para o fenômeno. Só forças poderosas são capazes de mudar comportamentos. O processo é lento e, não raro, doloroso. São dois passos para a frente e um para trás. Atingir o objetivo exige foco, determinação e persistência.

Vem à lembrança o ensinamento dos bancos escolares em razão da greve dos caminhoneiros, que põe em risco a normalidade da vida nacional. Embora não tenha chegado ao fim, a paralisação ensina lições antigas, muitas vezes repetidas e teimosamente ignoradas. Talvez agora — com os transtornos que imporá e a perspectiva de que essa será uma entre muitas reações à necessária reorganização da economia — os governantes se convençam da urgente necessidade de mudança dos modelos arcaicos, que não respondem às urgências da contemporaneidade.

A opção do Brasil pelo transporte rodoviário em detrimento do ferroviário tornou o país refém do combustível fóssil. O escoamento de mais de 61,1% da produção é feito pelas rodovias. Caminhões transportam combustível, alimentos, remédios, peças de reposição, insumos industriais. Parados, impedem aviões de decolar, portos de embarcar e desembarcar cargas, ônibus de levar e trazer passageiros, supermercados de repor mercadorias, pessoas de exercer o direito de ir e vir.

A mobilidade urbana depende sobretudo de ônibus e veículos particulares. Metrôs e trens, salvo raras exceções, cobrem trechos curtos, insuficientes para atender o usuário da saída à chegada, sem necessidade de recorrer à integração. Cidades como Brasília dispõem de transporte público de péssima qualidade — caro, impontual e desconfortável. A precariedade obriga o uso do carro e, com ele, congestionamentos, acidentes e falta de estacionamento.

Passou da hora de investir na diversidade da matriz de transporte. Com as dimensões continentais do Brasil, que deve se tornar o maior produtor agrícola do mundo, impõe-se apostar em trilhos capazes de ligar o território de norte a sul, de leste a oeste e de conduzir cargas e passageiros com rapidez e segurança. As linhas de metrô precisam cobrir as áreas citadinas como teias, aptas a dar ao cidadão o direito de escolha. Tirar o carro da garagem será alternativa, não obrigação.

Em outubro, os brasileiros vão às urnas eleger o presidente da República, governadores, senadores e deputados. São personagens importantes na guinada inadiável de eliminar os gargalos que impedem o país de avançar. Os eleitores têm de cobrar dos candidatos que deixem claros os caminhos que pretendem seguir. Os meios de comunicação desempenham papel fundamental no processo — cobrar respostas, questionar delírios e esclarecer o público. A hora é agora. Eis a lição que a greve dos caminhoneiros repete para repetentes.

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