Editorial Momento de cautela

Publicado em: 23/05/2018 03:00 Atualizado em: 23/05/2018 08:50

O governo enfrenta um dilema de grandes proporções com relação aos seguidos aumentos dos valores cobrados pelos combustíveis fósseis – o óleo diesel, principal responsável pelo transporte da produção nacional, e a gasolina, cujo preço é sinônimo de custo de vida para variados setores da sociedade. Inconformados com os preços nas bombas dos postos de abastecimento, os caminhoneiros deflagaram amplo movimento paredista, em pelo menos 19 estados e no Distrito Federal, com repercussões negativas para o momento de lenta recuperação da economia, depois de prolongada recessão.

O Palácio do Planalto está diante da seguinte questão: como baixar ou controlar os preços do diesel e da gasolina, como exigem os responsáveis pelo transporte de cargas no país, sem incorrer em erros de governantes do passado recente, que adotaram políticas de controle dos mesmos? O problema colocado ao Executivo é mais do que sensível e o seu equacionamento não é nada tranquilo.

Um dos caminhos mais fáceis e sedutores seria a redução de impostos sobre os combustíveis, o que não é recomendado, atualmente, por causa do elevadíssimo déficit público, que continua assombrando a todos. A outra opção seria a intervenção do Palácio do Planalto na política de preços da Petrobras – ela prevê reajustes diários de acordo com a variação do câmbio e dos preços internacionais –, o que significaria a repetição do desastre promovido pelas administrações petistas, que praticamente conseguiram quebrar a maior empresa do Brasil, em valor de mercado.

O ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, afirma, agora, que o espaço nas contas públicas é bastante reduzido para baixar os tributos que incidem sobre os combustíveis. Na semana passada, seu discurso era mais duro, de que não via qualquer possibilidade, neste sentido, este ano. A mudança, ao que tudo indica, se deu pela pressão exercida pelos caminhoneiros parados pelas estradas do país. Espera-se que a equipe do ministro apresente uma proposta que não aumente o rombo nas contas públicas.

O governo também afastou outro grande temor dos economistas, representado pela intervenção na política de preços da Petrobras, um dos pilares da recuperação da estatal. O presidente da petrolífera, Pedro Parente, garantiu que o Palácio do Planalto não tem a intenção de pedir qualquer alteração na definição dos valores do diesel e da gasolina. “Ficou esclarecido que, em hipótese alguma, passou pela cabeça do governo pedir qualquer mudança na política de preços da Petrobras”, afirmou. O importante é que a informação foi confirmada pelo ministro da Fazenda.

Na realidade, o Executivo tem pela frente o desafio de atender a reivindicação dos grevistas, que alegam não conseguir trabalhar com os custos tão elevados dos combustíveis. Não se pode esquecer que os caminhoneiros têm a simpatia e o apoio da população, desde que não adotem práticas de grupos radicais, que bloqueiam as rodovias em qualquer manifestação, impedindo o direito de ir e vir. Que fatos como o ocorrido na Regis Bittencourt não se repitam – as duas pistas foram interrompidas com barricadas de pneus queimados –, sob pena de o movimento perder o apoio da sociedade. O momento é de cautela para que se chegue a uma solução satisfatória a todos.

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