Editorial Venezuela nos estertores

Publicado em: 22/05/2018 03:00 Atualizado em: 22/05/2018 08:46

Eleição tem o dom de acender a luz da esperança. É o momento em que o povo exerce o direito de votar e se manifestar livremente. O resultado constitui termômetro importante para os políticos — informa a necessidade de mudança ou de manutenção dos caminhos traçados pelo governo.

Esse cenário, natural nas democracias, não constitui realidade na Venezuela. O país foi às urnas no domingo. Mas, longe de exercitar a liberdade de escolha, a população obedeceu a script previamente preparado. No comando nacional há 19 anos, o regime instituído por Hugo Chávez e mantido por Nicolás Maduro, fincou raízes tão profundas que parece se eterninar no poder.

Controla as Forças Armadas, o Judiciário e um Legislativo espúrio, conquistado à custa de golpe. Quando elegeu a maioria das cadeiras na Assembleia Nacional, a oposição ganhou, mas não levou. Maduro respondeu com a criação da Assembleia Constituinte, formada por governistas. Ao mesmo tempo, asfixiou os opositores com a proposta de um tal de Socialismo do Século 21.

O projeto, gestado em período em que Caracas sulfava nos petrodólares, mostrou a face cruel à medida que a abundância foi dando vez à escassez. Há, ali, aliança da corrupção com o narcotráfico, no qual está envolvida parcela das Forças Armadas. A crise transformou a antes próspera nação em escombro social e econômico.

Os números falam alto. Em 2018, a inflação ultrapassou 13.000%. O Produto Interno Bruto (PIB) despencou 45% nos cinco anos do governo Maduro. Mais de meio milhão de venezuelanos emigraram — 500 mil atravessaram a fronteira colombiana; 70 mil, a brasileira. Outros estão de malas prontas. Eles fogem da privação. Lá se conjuga o verbo faltar: falta comida, falta água potável, falta remédio, falta combustível, falta energia, faltam produtos de limpeza.

Foi nessas condições políticas, sociais e econômicas deterioradas que o povo foi convocado às urnas sem as garantias democráticas. Não surpreende, pois, a abstenção de 53% dos 20,5 milhões de eleitores registrados. Nem a vitória de Nicolás Maduro, proclamada pelo Conselho Nacional Eleitoral, com dois terços da parcela ínfima que compareceu às urnas. Nem o esperneio da oposição, que pede intervenção militar.

Tampouco surpreende o fato de a maioria dos países não terem reconhecido as eleições. A maior parte dos Estados sul-americanos, incluídos Brasil e Colômbia (fundamentais para fins comerciais de Caracas) condenaram o pleito. Canadá, México, Mercosul, o Grupo de Lima e a União Europeia fizeram o mesmo. Os Estados Unidos impõem sansões na área de petróleo. O quadro de isolamento pode derrubar o regime. É questão de tempo.

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