Distribuição de renda em tempos de crise e Lava-Jato

Alexandre Rands Barros
Economista, PhD pela Universidade de Illinois e presidente do Diario de Pernambuco

Publicado em: 19/05/2018 03:00 Atualizado em: 21/05/2018 09:55

Os dados mais recentes de distribuição de renda no Brasil, calculados pelo IBGE a partir da PNAD Contínua Trimestral, revelam que entre 2016 e 2017 não houve mudança na distribuição de renda no Brasil. O coeficiente de Gini (esse indicador cresce com a concentração de renda) para o rendimento domiciliar per capita, que foi de 0,549 em 2016, ficou no mesmo valor em 2017 (média do ano). Essa estatística nacional, contudo, esconde grande variação que houve entre estados e regiões. No Nordeste, região de maior concentração de renda, onde o Gini atingiu 0,567 em 2017, houve aumento da concentração com crescimento de 2,16% do Coeficiente de Gini. Somente o Centro-Oeste teve crescimento maior, de 2,49%. Na região Sul, que continua sendo a de melhor distribuição de renda no Brasil, o Gini atingiu apenas 0,477, apesar de ter crescido 0,846% entre 2016 e 2017. O Sudeste foi a única região com queda do Gini, que saiu de 0,535 em 2016 para 0,529 em 2017, forçando a estabilidade no agregado nacional entre 2016 e 2017. Entre os estados, as variações foram obviamente maiores.

Pernambuco em 2017 foi o estado com o nono maior Coeficiente de Gini. Ele atingiu 0,557. No Nordeste, teve o quinto maior ou também o quinto menor, situando-se em posição intermediária na região, mas com índice inferior ao de toda a região. Quanto a sua evolução, contudo, teve queda de 3,63% desse coeficiente entre 2016 e 2017, o que significa que a concentração de renda caiu no estado entre esses dois anos. Essa queda foi a terceira maior entre todos os estados do Brasil, ficando atrás apenas de Roraima e Rio Grande do Norte. Ou seja, o desempenho de Pernambuco foi muito bom no último ano.

A crise brasileira recente levou à maior queda do PIB per capita no país desde 1929. Ela atingiu todas as classes sociais em todas as regiões. Por isso, coeficiente de Gini não se alterou muito no país. Contudo, alguns setores econômicos sofreram mais do que outros. Por isso, que quando se desce para o nível de unidades da federação, há desempenhos tão diferenciados, pois há especializações produtivas diferentes nos diversos estados brasileiros. O desempenho do Coeficiente de Gini em Pernambuco, com a queda mencionada, reflete um pouco o fato de que o estado teve sua economia puxada pela agropecuária em 2017, que foi o setor que mais cresceu. Como a distribuição de renda é melhor nesse setor, a mudança de proporção da renda entre os setores melhorou a distribuição de renda. Isso significa que ela poderá continuar melhorando esse ano, pois novamente se espera que o desempenho da economia do estado seja novamente puxado pelo setor primário.

Os dados da PNAD Contínua não são comparáveis aos da antiga PNAD. O coeficiente de Gini na anterior era mais abrangente, pois tomava como referência os domicílios e incluíam todas as rendas. A versão atual restringiu mais a amplitude das rendas consideradas. Entretanto, Pernambuco teve queda do Coeficiente de Gini desde 2004, como o resto do Brasil. A tendência recente, revelada na comparação entre 2016 e 2017, parece ter dado continuidade ao que se observou ao longo dos últimos anos no estado. Mas vale salientar que na maior parte do Brasil já houve reversão dessa tendência, com exceção importante do Sudeste. Aqui em Pernambuco, no ano que vem, com o fim desse boom agropecuário devido à recuperação das chuvas, Pernambuco já deverá entrar no padrão nacional fora do Sudeste. A concentração de renda já deverá voltar a crescer.

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